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    Babilônia: História Verdadeira, Aplicação Falsa
    Arilton Oliveira

    Babilônia: História Verdadeira, Aplicação Falsa

    Desmascare a tipologia adventista sobre Babilônia com base bíblica e exegese honesta. Descubra erros teológicos e tenha respostas sólidas, leia agora.

    27 de dezembro de 202510 min min de leituraPor Rodrigo Custódio

    Arilton começa com uma exposição correta sobre Israel, divisão do reino, cativeiro babilônico, profecias de Jeremias e Isaías, Ciro desviando o Eufrates, a queda de Babilônia, retorno do exílio, Salmos 137 e 126. Tudo isso é, em termos gerais, historicamente correto. O problema começa quando ele usa essa história como tipo absoluto de uma narrativa adventista específica:

    • Babilônia literal = Babilônia espiritual de Apocalipse 18.

    • Ciro literal = Cristo.

    • Ordem para sair da Babilônia literal = ordem de Ap 18 para sair das “igrejas erradas” e entrar na IASD.

    • Judeus que criaram laços com Babilônia e não voltaram = cristãos que “têm laços com Babilônia” (dízimo, sábado, estilo de vida, etc.) e não entram na IASD.

    Essa tipologia é seletiva e profundamente interessada. João usa “Babilônia” em Apocalipse como símbolo de um sistema mundial de oposição a Deus (religioso, político, econômico), não como sinônimo de “qualquer igreja que não seja a Adventista”. Ap 18:4 diz: “Sai dela, povo meu” — Deus tem povo dentro de um sistema confuso; mas o texto não diz que quem sai entra automaticamente numa denominação específica. A aplicação “Babilônia = todas as outras igrejas; sair de Babilônia = virar adventista” é uma leitura confessional, não exegética.

    Pior: ele usa Ap 16 (sexto flagelo, secagem do Eufrates) como tipologia de preparação para a volta de Cristo e, em seguida, insere a narrativa adventista do decreto dominical e do remanescente “fiel à lei” sem mostrar isso no texto bíblico. O ouvinte leigo é jogado num labirinto de símbolos onde só a confissão adventista dá a chave, e isso é exatamente o tipo de uso de profecia que o próprio Arilton diz que não deveria existir: “não para matar curiosidade, mas para fortalecer confiança em Deus”. Na prática, o sermão fortalece confiança na estrutura denominacional.


    2. O Ataque em Quatro Frentes: Línguas, Exorcismo, Cura e Prosperidade

    Depois do bloco histórico-escatológico, Arilton muda de marcha e atira contra quatro “blocos” de igrejas:

    1. Igrejas que fazem do dom de línguas seu foco.

    2. Igrejas que enfatizam exorcismo.

    3. Igrejas centradas em cura.

    4. Igrejas da teologia da prosperidade.

    2.1. O Dom de Línguas Caricaturado

    Ele afirma:

    • O dom verdadeiro de línguas só é dado quando há necessidade missionária (xenolalia).

    • É sempre uma língua humana conhecida, nunca ininteligível.

    • Não existe “falar em línguas” como evidência do batismo no Espírito.

    • O culto das igrejas de línguas é “balbúrdia, confusão”; as pessoas repetem sons (“rara bara”) por pressão psicológica.

    Aqui, ele ecoa fielmente o padrão adventista oficial e o de Ellen White.

    2.2. Exorcismo e Cura Ridicularizados

    Sobre exorcismo:

    • Ele zomba da ideia de “demônio agendado” em programas de TV.

    • Diz: “Quem sacode gente e joga no chão é o diabo. O Espírito Santo ergue.”

    Sobre cura:

    • Ridiculariza curandeiros de TV (“Deus falou que alguém com problema de coluna foi curado…”).

    • Conta a história de um pregador de óculos que manda os outros jogarem óculos fora, mas mantém o dele.

    A crítica ao abuso é justa. O problema é que, de tanto atacar o excesso, o adventista acaba demonizando o dom em si, e substitui a expectativa sobrenatural por um racionalismo frio onde o Espírito só pode agir dentro dos limites de uma homilia bem estruturada e de uma liturgia controlada.

    2.3. Teologia da Prosperidade

    Aqui a crítica é amplamente bíblica: exploração financeira, “venda de colchão”, “3.000 processos por apropriação indébita” etc. De fato, a teologia da prosperidade é antibíblica: transforma Deus em ídolo utilitário. Mas o sermão não menciona que a própria Ellen White construiu um sistema de culpa financeira em torno de dízimo, ofertas e “sacrifícios especiais” que, na prática, produzem pressões similares em outros níveis.


    3. Ellen White por Trás do Púlpito: 4 Citações, 4 Problemas

    O sermão de Arilton não cita Ellen White, mas respira Ellen White em cada frase. O conceito de Babilônia, o ataque às igrejas carismáticas, a ênfase em dízimos/ofertas/sábado/estilo de vida como “laços com Babilônia”, e a ideia de que Deus tem “um povo” dentro das igrejas e o chama para a IASD — tudo isso está codificado nos escritos dela.

    Citação 1: Babilônia = Outras Igrejas

    “Muitos dos membros das igrejas, e mesmo muitos dos pastores, são prisoneiros de Babilônia. Babilônia tem sido a mãe de filhas que seguiram seus passos… Dentre todas essas igrejas o Senhor tem um povo… e antes que os juízos finais sejam derramados, ministros e leigos serão chamados a sair dessas igrejas.”
    — Ellen G. White, O Grande Conflito, ed. CPB, cap. “A Convocação Final”.

    Refutação 1:

    • Ellen White transforma as demais igrejas em “filhas da Babilônia” que precisam ser abandonadas para que o povo de Deus se una ao “remanescente”.

    • Apocalipse 18:4 não diz que “sair de Babilônia = sair de igrejas evangélicas e entrar na IASD”. Fala de um sistema mundano-religioso prostituído.

    • Reduzir todas as denominações não-adventistas a “prisoneiras de Babilônia” é sectarismo; ignora a realidade de milhões de crentes verdadeiros em igrejas históricas, que vivem a fé, pregam o evangelho e não estão em adultério espiritual.

    Citação 2: Dons Falsos, Línguas e Fanatismo

    “O fanatismo, o falso falar em línguas, e os cultos ruidosos têm sido considerados dons que Deus pôs na igreja. Alguns têm sido enganados nesse ponto. Os frutos de tudo isso não têm sido bons…”
    — Ellen G. White, Testemunhos Seletos, vol. 1, p. 150 [equivalente de Testimonies, vol. 1, p. 412].​

    Refutação 2:

    • Ellen White não admite sequer a possibilidade de uma glossolalia legítima contemporânea; tudo o que lembra manifestações pentecostais é rotulado de “fanatismo”.

    • Paulo, em 1 Coríntios 14, não trata o dom de línguas como “falso por natureza”, mas como dom autêntico que precisa de ordem, interpretação e uso inteligente.

    • A postura de White gera, na prática, um cessacionismo seletivo: ela aceita profecia (no caso, dela mesma), mas desconfia ou condena outros dons espetaculares quando não estão sob seu controle.

    Citação 3: Laços com o Mundo como Perda da Salvação

    “Aqueles que se apegam ao mundo em lugar de a Cristo, que preferem as suas comodidades e prazeres à obra de Deus, finalmente serão deixados com Babilônia para beber do vinho da ira de Deus.”
    — Ellen G. White, Eventos Finais, comp. de citações, cap. “Laços com o Mundo” [compilação de textos de GC e Testemunhos].

    Refutação 3:

    • O sermão de Arilton ecoa isso ao listar “laços com Babilônia”: infidelidade no dízimo, trabalhar/estudar no sábado, modéstia, alimentação, vestuário. Tudo isso é colocado como possível fator de perda de salvação.

    • O Novo Testamento ensina que a salvação é pela graça mediante a fé, não pela perfeição de observâncias (Efésios 2:8-9). Obras são fruto, não condição de manutenção da salvação.

    • Equiparar questões de consciência (emprego, estudos, roupa, comida) a “ficar com Babilônia” e “perder a salvação” é ultrapassar o que está escrito (1 Coríntios 4:6) e introduzir um sistema de medo e controle.

    Citação 4: Sair das Igrejas e Juntar-se ao Remanescente

    “A mensagem do terceiro anjo será proclamada com grande poder, e milhares e milhares serão vistos deixando as igrejas que agora consideram Babilônia, e unindo-se ao povo de Deus, que guarda os mandamentos e tem a fé de Jesus.”
    — Ellen G. White, O Grande Conflito, cap. “O Clamor da Meia-Noite”.

    Refutação 4:

    • Arilton, ao final do sermão, faz exatamente isso: apela para que pessoas deixem suas igrejas e se unam à IASD por causa da suposta “verdade” e por ser “a igreja onde o Espírito está”.

    • Bíblicamente, a noiva de Cristo é a igreja universal composta de todos os que creem, não uma corporação com CG, sede em Silver Spring e manual de igreja.

    • Sair de uma igreja pode ser legítimo quando há heresia; mas transformar isso em “movimento profético final” que converge tudo para uma única denominação visível é escatologia sectária, não católica (universal).


    4. O Golpe Final: Salvação Condicionada ao Batismo e à Obediência

    O ponto mais grave do sermão vem no apelo:

    • Ele afirma: “Não existe esperança de salvação para você sem batismo. Cristo não mente. Em Marcos 16:16 ele disse: ‘Quem crer e for batizado será salvo.’ Não existe salvação sem entrega, sem batismo.”

    • Ele associa “sair de Babilônia” à decisão de se tornar membro da IASD, abandonar laços (sábado, dízimo, estilo de vida) e preparar-se para o batismo.

    4.1. O Uso de Marcos 16:16

    “Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado.” (Marcos 16:16)

    Arilton lê isso como se dissesse: “Quem não for batizado não será salvo”. Mas o texto não diz isso. Ele contrasta “crer + batismo” com “não crer”. A condenação recai sobre a incredulidade, não sobre a ausência de batismo em si. O ladrão na cruz creu e não foi batizado; Jesus lhe garante o paraíso. A igreja primitiva batiza como regra, mas não faz do ato ritual condição absoluta em todos os casos extremos. O problema do adventismo é usar textos assim para apoiar um sistema sacramental de entrada na “igreja remanescente”, onde de fato se ensina que ninguém fora do seu sistema, conhecendo a “verdade”, será salvo.

    4.2. “Laços com Babilônia” Como Lista de Obras

    Quando Arilton lista possíveis laços com Babilônia — infidelidade no dízimo, trabalho no sábado, conversas íntimas, estilo de vida (comida, bebida, vestuário) — ele está, na prática, colocando a perseverança da salvação na balança dessas práticas. É o velho esquema:

    • “Não somos salvos pelas obras… mas quem não obedecer perde a salvação.”

    Na prática, isso é salvação por obras com outro nome. A obediência genuína é fruto do novo nascimento, não condição de manutenção do status de filho. Um filho desobediente é disciplinado, não desadotado.


    5. Refutação Bíblica Sólida

    5.1. Sobre Babilônia e o “Sair Dela”

    • Apocalipse 17–18 mostra Babilônia como um sistema de prostituição espiritual, embriagando as nações com idolatria e injustiça.

    • O chamado “Sai dela, povo meu” é um chamado para abandonar idolatria, iniqüidade, alianças com o mundo — não apenas para trocar de denominação.

    • Em João 10, Jesus diz que tem “outras ovelhas que não são deste aprisco”, e as chamará; a ênfase é em ouvir a voz do Pastor, não em uma marca institucional específica.

    5.2. Sobre Línguas

    • Atos 2 mostra xenolalia, sim: línguas humanas entendidas por múltiplas nações.

    • 1 Coríntios 12–14 mostra uma outra função: oração e louvor em língua não compreendida pelo falante, que edifica o próprio espírito e requer interpretação para edificação da igreja.

    • Paulo não proíbe línguas; ele regula:

      • No máximo dois ou três, por sua vez, com intérprete (1Co 14:27).

      • Se não houver intérprete, cale-se na igreja e fale consigo e com Deus (v. 28).

    • A frase “não proibais falar em línguas” (1Co 14:39) é frontalmente oposta ao espírito adventista de demonizar qualquer manifestação glossolálica contemporânea.

    5.3. Sobre Exorcismo e Cura

    • Jesus expulsava demônios com autoridade, e os demônios sacudiam pessoas e as lançavam por terra (Marcos 1:26; 9:20). Dizer que “quem sacode gente e joga no chão é o diabo” ignora que muitas libertações no evangelho envolvem exatamente isso — mas o autor é Cristo.

    • Jesus cura, sim, mas nunca vende cura, nunca a usa para manipular financeiramente. A crítica à prosperidade é bíblica, mas não autoriza desacreditar toda expectativa de intervenção sobrenatural de Deus.

    5.4. Sobre Salvação, Obediência e Batismo

    • Efésios 2:8-9: salvação é pela graça, mediante a fé; não vem de obras.

    • Romanos 4 mostra Abraão justificado pela fé antes de qualquer obra.

    • Gálatas 3–5 condena qualquer tentativa de adicionar condições à fé como base de justificação.

    • O batismo é ordenança obrigatória para o discípulo, mas não é “sacramento mágico” que determina sozinho o destino eterno em todos os casos. Deus é soberano sobre suas ordenanças.


    6. Conclusão: O Apelo Correto

    O verdadeiro apelo bíblico não é:

    • “Saia de todas as outras igrejas e entre na nossa.”

    • “Pague o dízimo, guarde o sábado e mude seu vestuário para romper laços com Babilônia.”

    • “Sem batismo nesta estrutura não há esperança para você.”

    O apelo bíblico é:

    • “Arrependei-vos e crede no evangelho” (Marcos 1:15).

    • “Vinde a mim” (Mateus 11:28).

    • “Crê no Senhor Jesus, e serás salvo” (Atos 16:31).

    Quem está em Cristo, pela fé, já saiu da Babilônia no único sentido que importa: deixou a idolatria, a autoconfiança, a justiça própria, as trevas. Pode depois crescer em discernimento e, sim, deixar sistemas falsos. Mas a sua salvação não depende de filiação à IASD nem do equilíbrio perfeito em dízimos, sábado e estilo de vida. Depende de um só: Cristo, o Senhor da Babilônia, o verdadeiro Ciro, que quebra as portas de bronze e liberta cativos sem pedir o CPF denominacional de ninguém.

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