
Babilônia: História Verdadeira, Aplicação Falsa
Desmascare a tipologia adventista sobre Babilônia com base bíblica e exegese honesta. Descubra erros teológicos e tenha respostas sólidas, leia agora.
Arilton começa com uma exposição correta sobre Israel, divisão do reino, cativeiro babilônico, profecias de Jeremias e Isaías, Ciro desviando o Eufrates, a queda de Babilônia, retorno do exílio, Salmos 137 e 126. Tudo isso é, em termos gerais, historicamente correto. O problema começa quando ele usa essa história como tipo absoluto de uma narrativa adventista específica:
Babilônia literal = Babilônia espiritual de Apocalipse 18.
Ciro literal = Cristo.
Ordem para sair da Babilônia literal = ordem de Ap 18 para sair das “igrejas erradas” e entrar na IASD.
Judeus que criaram laços com Babilônia e não voltaram = cristãos que “têm laços com Babilônia” (dízimo, sábado, estilo de vida, etc.) e não entram na IASD.
Essa tipologia é seletiva e profundamente interessada. João usa “Babilônia” em Apocalipse como símbolo de um sistema mundial de oposição a Deus (religioso, político, econômico), não como sinônimo de “qualquer igreja que não seja a Adventista”. Ap 18:4 diz: “Sai dela, povo meu” — Deus tem povo dentro de um sistema confuso; mas o texto não diz que quem sai entra automaticamente numa denominação específica. A aplicação “Babilônia = todas as outras igrejas; sair de Babilônia = virar adventista” é uma leitura confessional, não exegética.
Pior: ele usa Ap 16 (sexto flagelo, secagem do Eufrates) como tipologia de preparação para a volta de Cristo e, em seguida, insere a narrativa adventista do decreto dominical e do remanescente “fiel à lei” sem mostrar isso no texto bíblico. O ouvinte leigo é jogado num labirinto de símbolos onde só a confissão adventista dá a chave, e isso é exatamente o tipo de uso de profecia que o próprio Arilton diz que não deveria existir: “não para matar curiosidade, mas para fortalecer confiança em Deus”. Na prática, o sermão fortalece confiança na estrutura denominacional.
2. O Ataque em Quatro Frentes: Línguas, Exorcismo, Cura e Prosperidade
Depois do bloco histórico-escatológico, Arilton muda de marcha e atira contra quatro “blocos” de igrejas:
Igrejas que fazem do dom de línguas seu foco.
Igrejas que enfatizam exorcismo.
Igrejas centradas em cura.
Igrejas da teologia da prosperidade.
2.1. O Dom de Línguas Caricaturado
Ele afirma:
O dom verdadeiro de línguas só é dado quando há necessidade missionária (xenolalia).
É sempre uma língua humana conhecida, nunca ininteligível.
Não existe “falar em línguas” como evidência do batismo no Espírito.
O culto das igrejas de línguas é “balbúrdia, confusão”; as pessoas repetem sons (“rara bara”) por pressão psicológica.
Aqui, ele ecoa fielmente o padrão adventista oficial e o de Ellen White.
2.2. Exorcismo e Cura Ridicularizados
Sobre exorcismo:
Ele zomba da ideia de “demônio agendado” em programas de TV.
Diz: “Quem sacode gente e joga no chão é o diabo. O Espírito Santo ergue.”
Sobre cura:
Ridiculariza curandeiros de TV (“Deus falou que alguém com problema de coluna foi curado…”).
Conta a história de um pregador de óculos que manda os outros jogarem óculos fora, mas mantém o dele.
A crítica ao abuso é justa. O problema é que, de tanto atacar o excesso, o adventista acaba demonizando o dom em si, e substitui a expectativa sobrenatural por um racionalismo frio onde o Espírito só pode agir dentro dos limites de uma homilia bem estruturada e de uma liturgia controlada.
2.3. Teologia da Prosperidade
Aqui a crítica é amplamente bíblica: exploração financeira, “venda de colchão”, “3.000 processos por apropriação indébita” etc. De fato, a teologia da prosperidade é antibíblica: transforma Deus em ídolo utilitário. Mas o sermão não menciona que a própria Ellen White construiu um sistema de culpa financeira em torno de dízimo, ofertas e “sacrifícios especiais” que, na prática, produzem pressões similares em outros níveis.
3. Ellen White por Trás do Púlpito: 4 Citações, 4 Problemas
O sermão de Arilton não cita Ellen White, mas respira Ellen White em cada frase. O conceito de Babilônia, o ataque às igrejas carismáticas, a ênfase em dízimos/ofertas/sábado/estilo de vida como “laços com Babilônia”, e a ideia de que Deus tem “um povo” dentro das igrejas e o chama para a IASD — tudo isso está codificado nos escritos dela.
Citação 1: Babilônia = Outras Igrejas
“Muitos dos membros das igrejas, e mesmo muitos dos pastores, são prisoneiros de Babilônia. Babilônia tem sido a mãe de filhas que seguiram seus passos… Dentre todas essas igrejas o Senhor tem um povo… e antes que os juízos finais sejam derramados, ministros e leigos serão chamados a sair dessas igrejas.”
— Ellen G. White, O Grande Conflito, ed. CPB, cap. “A Convocação Final”.
Refutação 1:
Ellen White transforma as demais igrejas em “filhas da Babilônia” que precisam ser abandonadas para que o povo de Deus se una ao “remanescente”.
Apocalipse 18:4 não diz que “sair de Babilônia = sair de igrejas evangélicas e entrar na IASD”. Fala de um sistema mundano-religioso prostituído.
Reduzir todas as denominações não-adventistas a “prisoneiras de Babilônia” é sectarismo; ignora a realidade de milhões de crentes verdadeiros em igrejas históricas, que vivem a fé, pregam o evangelho e não estão em adultério espiritual.
Citação 2: Dons Falsos, Línguas e Fanatismo
“O fanatismo, o falso falar em línguas, e os cultos ruidosos têm sido considerados dons que Deus pôs na igreja. Alguns têm sido enganados nesse ponto. Os frutos de tudo isso não têm sido bons…”
— Ellen G. White, Testemunhos Seletos, vol. 1, p. 150 [equivalente de Testimonies, vol. 1, p. 412].
Refutação 2:
Ellen White não admite sequer a possibilidade de uma glossolalia legítima contemporânea; tudo o que lembra manifestações pentecostais é rotulado de “fanatismo”.
Paulo, em 1 Coríntios 14, não trata o dom de línguas como “falso por natureza”, mas como dom autêntico que precisa de ordem, interpretação e uso inteligente.
A postura de White gera, na prática, um cessacionismo seletivo: ela aceita profecia (no caso, dela mesma), mas desconfia ou condena outros dons espetaculares quando não estão sob seu controle.
Citação 3: Laços com o Mundo como Perda da Salvação
“Aqueles que se apegam ao mundo em lugar de a Cristo, que preferem as suas comodidades e prazeres à obra de Deus, finalmente serão deixados com Babilônia para beber do vinho da ira de Deus.”
— Ellen G. White, Eventos Finais, comp. de citações, cap. “Laços com o Mundo” [compilação de textos de GC e Testemunhos].
Refutação 3:
O sermão de Arilton ecoa isso ao listar “laços com Babilônia”: infidelidade no dízimo, trabalhar/estudar no sábado, modéstia, alimentação, vestuário. Tudo isso é colocado como possível fator de perda de salvação.
O Novo Testamento ensina que a salvação é pela graça mediante a fé, não pela perfeição de observâncias (Efésios 2:8-9). Obras são fruto, não condição de manutenção da salvação.
Equiparar questões de consciência (emprego, estudos, roupa, comida) a “ficar com Babilônia” e “perder a salvação” é ultrapassar o que está escrito (1 Coríntios 4:6) e introduzir um sistema de medo e controle.
Citação 4: Sair das Igrejas e Juntar-se ao Remanescente
“A mensagem do terceiro anjo será proclamada com grande poder, e milhares e milhares serão vistos deixando as igrejas que agora consideram Babilônia, e unindo-se ao povo de Deus, que guarda os mandamentos e tem a fé de Jesus.”
— Ellen G. White, O Grande Conflito, cap. “O Clamor da Meia-Noite”.
Refutação 4:
Arilton, ao final do sermão, faz exatamente isso: apela para que pessoas deixem suas igrejas e se unam à IASD por causa da suposta “verdade” e por ser “a igreja onde o Espírito está”.
Bíblicamente, a noiva de Cristo é a igreja universal composta de todos os que creem, não uma corporação com CG, sede em Silver Spring e manual de igreja.
Sair de uma igreja pode ser legítimo quando há heresia; mas transformar isso em “movimento profético final” que converge tudo para uma única denominação visível é escatologia sectária, não católica (universal).
4. O Golpe Final: Salvação Condicionada ao Batismo e à Obediência
O ponto mais grave do sermão vem no apelo:
Ele afirma: “Não existe esperança de salvação para você sem batismo. Cristo não mente. Em Marcos 16:16 ele disse: ‘Quem crer e for batizado será salvo.’ Não existe salvação sem entrega, sem batismo.”
Ele associa “sair de Babilônia” à decisão de se tornar membro da IASD, abandonar laços (sábado, dízimo, estilo de vida) e preparar-se para o batismo.
4.1. O Uso de Marcos 16:16
“Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado.” (Marcos 16:16)
Arilton lê isso como se dissesse: “Quem não for batizado não será salvo”. Mas o texto não diz isso. Ele contrasta “crer + batismo” com “não crer”. A condenação recai sobre a incredulidade, não sobre a ausência de batismo em si. O ladrão na cruz creu e não foi batizado; Jesus lhe garante o paraíso. A igreja primitiva batiza como regra, mas não faz do ato ritual condição absoluta em todos os casos extremos. O problema do adventismo é usar textos assim para apoiar um sistema sacramental de entrada na “igreja remanescente”, onde de fato se ensina que ninguém fora do seu sistema, conhecendo a “verdade”, será salvo.
4.2. “Laços com Babilônia” Como Lista de Obras
Quando Arilton lista possíveis laços com Babilônia — infidelidade no dízimo, trabalho no sábado, conversas íntimas, estilo de vida (comida, bebida, vestuário) — ele está, na prática, colocando a perseverança da salvação na balança dessas práticas. É o velho esquema:
“Não somos salvos pelas obras… mas quem não obedecer perde a salvação.”
Na prática, isso é salvação por obras com outro nome. A obediência genuína é fruto do novo nascimento, não condição de manutenção do status de filho. Um filho desobediente é disciplinado, não desadotado.
5. Refutação Bíblica Sólida
5.1. Sobre Babilônia e o “Sair Dela”
Apocalipse 17–18 mostra Babilônia como um sistema de prostituição espiritual, embriagando as nações com idolatria e injustiça.
O chamado “Sai dela, povo meu” é um chamado para abandonar idolatria, iniqüidade, alianças com o mundo — não apenas para trocar de denominação.
Em João 10, Jesus diz que tem “outras ovelhas que não são deste aprisco”, e as chamará; a ênfase é em ouvir a voz do Pastor, não em uma marca institucional específica.
5.2. Sobre Línguas
Atos 2 mostra xenolalia, sim: línguas humanas entendidas por múltiplas nações.
1 Coríntios 12–14 mostra uma outra função: oração e louvor em língua não compreendida pelo falante, que edifica o próprio espírito e requer interpretação para edificação da igreja.
Paulo não proíbe línguas; ele regula:
No máximo dois ou três, por sua vez, com intérprete (1Co 14:27).
Se não houver intérprete, cale-se na igreja e fale consigo e com Deus (v. 28).
A frase “não proibais falar em línguas” (1Co 14:39) é frontalmente oposta ao espírito adventista de demonizar qualquer manifestação glossolálica contemporânea.
5.3. Sobre Exorcismo e Cura
Jesus expulsava demônios com autoridade, e os demônios sacudiam pessoas e as lançavam por terra (Marcos 1:26; 9:20). Dizer que “quem sacode gente e joga no chão é o diabo” ignora que muitas libertações no evangelho envolvem exatamente isso — mas o autor é Cristo.
Jesus cura, sim, mas nunca vende cura, nunca a usa para manipular financeiramente. A crítica à prosperidade é bíblica, mas não autoriza desacreditar toda expectativa de intervenção sobrenatural de Deus.
5.4. Sobre Salvação, Obediência e Batismo
Efésios 2:8-9: salvação é pela graça, mediante a fé; não vem de obras.
Romanos 4 mostra Abraão justificado pela fé antes de qualquer obra.
Gálatas 3–5 condena qualquer tentativa de adicionar condições à fé como base de justificação.
O batismo é ordenança obrigatória para o discípulo, mas não é “sacramento mágico” que determina sozinho o destino eterno em todos os casos. Deus é soberano sobre suas ordenanças.
6. Conclusão: O Apelo Correto
O verdadeiro apelo bíblico não é:
“Saia de todas as outras igrejas e entre na nossa.”
“Pague o dízimo, guarde o sábado e mude seu vestuário para romper laços com Babilônia.”
“Sem batismo nesta estrutura não há esperança para você.”
O apelo bíblico é:
“Arrependei-vos e crede no evangelho” (Marcos 1:15).
“Vinde a mim” (Mateus 11:28).
“Crê no Senhor Jesus, e serás salvo” (Atos 16:31).
Quem está em Cristo, pela fé, já saiu da Babilônia no único sentido que importa: deixou a idolatria, a autoconfiança, a justiça própria, as trevas. Pode depois crescer em discernimento e, sim, deixar sistemas falsos. Mas a sua salvação não depende de filiação à IASD nem do equilíbrio perfeito em dízimos, sábado e estilo de vida. Depende de um só: Cristo, o Senhor da Babilônia, o verdadeiro Ciro, que quebra as portas de bronze e liberta cativos sem pedir o CPF denominacional de ninguém.