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    Demonizando The Chosen para Proteger Ellen White
    Eleazar Domini

    Demonizando The Chosen para Proteger Ellen White

    Análise crítica revela a incoerência do adventismo ao condenar The Chosen, expondo o duplo padrão em relação às visões de Ellen White. Confira e reflita

    27 de dezembro de 20258 min min de leituraPor Rodrigo Custódio

    Resumo: Em um vídeo recente do canal Fala Sério Pastor, Eleazar Domini lança um ataque contundente contra a série The Chosen, acusando-a de promover "espiritismo" e de violar a santidade bíblica ao adicionar cenas extrabíblicas. Utilizando uma retórica de "pureza doutrinária", Domini condena a licença poética da série, especificamente uma cena onde Jesus dialoga com José (já falecido) em memória/visão. Contudo, este artigo expõe a profunda incoerência teológica dessa crítica. Enquanto o Adventismo condena The Chosen por adições fictícias, a própria denominação foi fundada e é sustentada pelas visões extrabíblicas de Ellen G. White — que incluem diálogos literais com mortos e reescritas completas de narrativas bíblicas. Sob a máscara de zelo pela Bíblia, o ataque a The Chosen não é uma defesa da Escritura, mas uma defesa do monopólio da imaginação religiosa adventista.

    Ficções Apresentadas como Fato
    Ellen White escreveu dezenas de livros repletos de afirmações que a Bíblia nunca fez, mas que ela vendeu como "visão divina".

    • Ela afirmou que antes do pecado, Satanás tinha uma aparência nobre e que Deus lhe deu oportunidades de arrependimento (ideias de Paraíso Perdido, não da Bíblia).

    • Ela afirmou que a amalgamação (cruzamento) de homens e animais foi um dos pecados que causou o Dilúvio — uma heresia biológica e teológica absurda.

    • Ela profetizou que a Inglaterra declararia guerra aos EUA durante a Guerra Civil Americana (não aconteceu).

    • Ela profetizou que Jerusalém nunca seria reconstruída (foi e hoje é a capital de Israel).

    Esses livros não são profecia; são ficção religiosa histórica temperada com erros factuais e plágio. No entanto, pastores como Domini exigem que os membros filtrem The Chosen (que admite ser ficção) enquanto engolem O Grande Conflito (que falsamente alega ser revelação) como verdade absoluta. A "ficção bíblica" de White é muito mais perigosa porque vem embalada com o rótulo enganoso de "Assim diz o Senhor".


    1. O Zelo Seletivo de Eleazar Domini

    O pastor adventista Eleazar Domini construiu sua reputação digital como um defensor da ortodoxia bíblica, respondendo dúvidas com aparente rigor. Em seu ataque à série The Chosen, ele adota uma postura de "Sola Scriptura" radical. Ele critica a série por introduzir elementos não encontrados nos Evangelhos, rotulando-a de perigosa, "espírita" e uma armadilha de Satanás para desviar os jovens da leitura da Bíblia.

    O ponto de ruptura para Domini é a representação de Jesus tendo um momento de conforto através da memória ou visão de seu pai terreno, José. Domini classifica isso como uma "sessão espírita", invocando a proibição bíblica de comunicação com os mortos (necromancia).

    Para um observador externo, isso parece piedoso. Mas para o cristão reformado que conhece a história do Adventismo, a ironia é gritante. A mesma denominação que chama The Chosen de "espiritismo" por causa de uma licença artística venera uma profetisa que alegou ter visitado outros planetas, conversado com anjos e até recebido instruções de seu marido morto em sonhos. A crítica de Domini revela não um compromisso com a Bíblia, mas uma cegueira denominacional: a ficção dos outros é heresia; a ficção de Ellen White é "Luz Menor".

    2. A Acusação: "The Chosen é Espiritismo"

    Os argumentos centrais de Eleazar Domini contra a série são:

    1. A Adição Extrabíblica: A série cria diálogos e situações (como a deficiência do personagem Tiago) que não estão na Bíblia. Domini argumenta que isso corrompe a pureza da Palavra.

    2. A Cena de "Necromancia": A representação de José "falando" com Jesus (seja em memória, sonho ou visão) é classificada teologicamente como necromancia. "Você tem uma sessão espírita no momento mais sublime da vida de Cristo", diz Domini.

    3. O Efeito Substitutivo: Séries de TV diminuem o apetite pela leitura bíblica. "Uma você alimenta, a outra morre".

    Domini conclui com um apelo purista: "Eu prefiro me debruçar aqui [na Bíblia]... Tudo o que eu preciso saber dele tá aqui. O resto é ficção".

    3. A Sombra de Ellen White: O Telhado de Vidro Adventista

    A exigência deste artigo é expor a hipocrisia estrutural: o Adventismo critica a dramatização moderna enquanto canoniza a dramatização vitoriana de Ellen White.

    A. Ellen White e a Comunicação com os Mortos

    Enquanto Domini rasga suas vestes por causa de uma cena artística em The Chosen, ele omite (ou ignora) que sua própria profetisa praticou exatamente o que ele condena. Após a morte de seu marido Tiago White, Ellen White relatou em uma carta ao seu filho (Carta 17, 1881) que teve um "sonho" onde Tiago apareceu, conversou com ela e lhe deu instruções administrativas sobre a igreja.

    Ellen escreveu: "Eu vi o Pai [Tiago]... Ele parecia tão saudável... Eu disse: 'Pai, eu vi você morrer'... Ele disse: 'O Senhor sabe que é melhor assim... Agora, Ellen, você deve fazer isso e aquilo...'" Ela seguiu as instruções desse "espírito" ou "sonho", mudando seus planos de viagem baseada na conversa com o morto.

    Se The Chosen é "espiritismo" por mostrar uma interação visual com um morto em uma dramatização, o que dizer da profetisa fundadora que alegou receber orientação administrativa real de seu marido morto? O Adventismo chama o sonho de Ellen de "profético" e a cena de The Chosen de "satânica". Isso é um duplo padrão teológico indefensável.

    B. O Grande Conflito: A Maior Fanfic Bíblica da História

    Domini critica The Chosen por adicionar detalhes não bíblicos (como a personalidade dos discípulos). No entanto, a obra magna do Adventismo, O Grande Conflito e a série O Desejado de Todas as Nações, são essencialmente reescritas massivas da Bíblia repletas de detalhes extrabíblicos que Ellen White alegou ter visto em visão.

    Exemplos de adições de White que os adventistas aceitam como verdade:

    • Diálogos específicos entre Jesus e Satanás que não estão na Bíblia.

    • A descrição física de Satanás antes da queda.

    • Cenas detalhadas do Dilúvio e da criação que contradizem ou expandem o Gênesis.

    • A afirmação de que Satanás realizou milagres reais no Egito, não apenas truques.

    Quando os roteiristas de The Chosen preenchem lacunas, é "ficção perigosa". Quando Ellen White preenche lacunas com suas alucinações vitorianas, é "Espírito de Profecia". Domini não odeia adições à Bíblia; ele odeia adições que não foram aprovadas por Ellen White.

    C. A "Sessão Espírita" Teológica

    O Adventismo ensina que, no fim dos tempos, o espiritismo invadirá as igrejas protestantes (Apocalipse 13 interpretado via Grande Conflito). Domini está condicionado a ver "espiritismo" em tudo que não se alinha com sua doutrina do "sono da alma".

    Para a teologia reformada, a morte não é aniquilação nem sono inconsciente. Moisés e Elias apareceram na Transfiguração (Mateus 17) para conversar com Jesus. Eram eles "demônios em uma sessão espírita"? Não. Eram os santos glorificados. Embora a Bíblia proíba a invocação de mortos (necromancia), ela não nega a consciência dos santos. A histeria de Domini sobre a cena de José revela mais sobre o medo adventista da imortalidade da alma do que sobre a integridade das Escrituras.

    4. Refutação Teológica: Arte, Ficção e a Liberdade Cristã

    A. A Distinção entre Cânon e Arte

    A tradição Reformada sempre fez uma distinção clara entre a Palavra de Deus (infalível e suficiente para a salvação) e a arte cristã (falível, ilustrativa e sujeita a crítica).

    • The Chosen se apresenta como arte. Os criadores admitem: "Isto não é a Bíblia". Eles usam a "imaginação santificada" para preencher as lacunas narrativas, ajudando a visualizar a humanidade de Cristo.

    • Ellen White se apresenta como autoridade profética. Ela dizia: "Eu vi", "O anjo me disse". Ela não pedia licença poética; ela exigia submissão doutrinária.

    O perigo real não é uma série de TV que todos sabem ser ficção; o perigo é uma profetisa que alega que suas ficções são a Voz de Deus. Domini ataca o alvo errado.

    B. O Medo da Competição

    Domini argumenta: "O jovem que gasta muito tempo lendo a Bíblia... vai olhar [para a série] e dizer: romantizaram demais".
    Na verdade, o medo do pastor adventista pode ser outro. The Chosen apresenta um Jesus acessível, gracioso e focado no relacionamento pessoal, sem a bagagem legalista do Sábado, do Juízo Investigativo de 1844 ou das restrições dietéticas. Um jovem adventista que se apaixona pelo Jesus dos Evangelhos (mesmo via arte) pode começar a questionar o "Jesus" burocrático e punitivo de Ellen White, que está trancado no santuário celestial investigando pecados desde 1844. A série ameaça o monopólio emocional que o sistema adventista exerce sobre seus fiéis.

    5. Conclusão: O Farisaísmo da "Pura Bíblia"

    O vídeo de Eleazar Domini é um exercício de farisaísmo midiático. Ele coa o mosquito da licença artística em uma série de TV, mas engole o camelo das visões extra-bíblicas de sua própria denominação.

    Ao acusar The Chosen de espiritismo, ele trivializa o verdadeiro perigo espiritual e blinda seus seguidores de confrontarem a realidade: o Adventismo do Sétimo Dia é, em si mesmo, um sistema baseado em revelações extra-bíblicas. Se adicionar palavras à boca de Jesus é heresia, Ellen White é a maior herege da era moderna.

    O cristão reformado deve ter discernimento com qualquer mídia, sim. Mas deve ter muito mais cautela com pastores que demonizam a arte cristã enquanto canonizam fábulas do século XIX. A Bíblia é suficiente. Jesus é suficiente. E Ele não precisa da proteção de Eleazar Domini contra uma série de TV, nem das "correções" de Ellen White para ser compreendido.

    A verdadeira "ficção" que desvia os homens do Evangelho não está na Netflix; está nos livros encadernados em couro preto com o nome "Espírito de Profecia" na capa.

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