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    Jesus Estava Quase Voltando em 1850? Análise Crítica Adventista
    Ellen White

    Jesus Estava Quase Voltando em 1850? Análise Crítica Adventista

    Analise se Jesus realmente voltaria em 1850 segundo o adventismo à luz da Bíblia. Descubra verdades e equívocos doutrinários neste artigo crítico.

    24 de dezembro de 20258 min min de leituraPor Rodrigo Custóio

    Introdução

    Time Almost Finished in 1850 constitui uma das afirmações mais controversas oriundas das visões proféticas de Ellen G. White no contexto do movimento adventista do século XIX. À época, a igreja adventista encontrava-se em meio à turbulência teológica conhecida como “shut door”, marcada por oscilações doutrinárias sobre a natureza da salvação e do fechamento da porta da graça. Este artigo acadêmico visa analisar criticamente, à luz das Escrituras Sagradas e de uma abordagem teológica reformada, a legitimação profética de Ellen White acerca do “tempo quase acabado” em 1850. Neste estudo, serão examinadas: 1) a profecia do tempo iminente, 2) a doutrina do shut door, 3) as consequências e reelaborações doutrinárias dentro do adventismo, e 4) o critério bíblico para autenticidade profética. Tal análise pretende oferecer clareza bíblica aos que questionam a validade das alegações proféticas adventistas, incentivando um exame rigoroso fundamentado unicamente na Palavra divina.

    1. Profecia Adventista: “Tempo Quase Acabado” em 1850

    A afirmação de Ellen G. White, registrada em Early Writings (EW 64.1), de que o “tempo está quase acabado” em 1850, representa uma proclamação escatológica de forte impacto sobre a teologia adventista inicial. Nas palavras da profetisa, um anjo teria declarado:

    “O tempo quase está acabado. Você reflete a bela imagem de Jesus como deveria? […] Vocês terão que morrer uma morte maior para o mundo do que jamais morreram.”

    1.1 Origens da Afirmação e Contexto Histórico

    O ano de 1850 foi precedido por intensa agitação após o desapontamento de 1844, quando William Miller previu a segunda vinda de Cristo. Entre 1844 e 1851, Ellen White e outros líderes sustentaram, em diferentes graus, a noção de que a porta da misericórdia estava fechada para o mundo, restringindo a salvação a um pequeno remanescente.

    • Estudos históricos, como George R. Knight (Millennial Fever, 1993), demonstram que o “tempo quase acabado” era expressão recorrente, associada à expectativa do iminente retorno de Cristo.

    • A retórica do “pouco tempo de preparação” transmitia um senso apocalíptico de urgência, intensificando ansiedade entre os adeptos recém-convertidos ao adventismo.

    1.2 Análise Bíblica da Proclamação Temporal

    À luz das Escrituras, qualquer afirmação de que “o tempo está quase acabado” exige criteriosa verificação:

    • Jesus advertiu:

      “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai” (Mateus 24:36).

    • A predição de tempos específicos para o fim é condenada nas Escrituras:

      “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade” (Atos 1:7).

    • O anúncio reiterado de “pouco tempo” em 1850, sem subsequente cumprimento, caracteriza falsa profecia de acordo com Deuteronômio 18:22: “Quando tal profeta falar em nome do Senhor, e tal palavra não se cumprir, nem suceder assim, esta é palavra que o Senhor não disse.”

    • Em contraste, a expectativa cristã não repousa sobre datas ou sensações de urgência manipuladas, mas sobre a vigilância contínua:

      “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia, nem a hora em que o Filho do homem há de vir” (Mateus 25:13).

    Assim, as afirmações temporais de White não somente colidem frontalmente com ensinamentos bíblicos centrais, mas estabelecem um padrão perigoso de especulação escatológica proibida pelo próprio Cristo.

    2. A Doutrina Adventista do “Shut Door” e suas Implicações Teológicas

    A doutrina conhecida como shut door foi desenvolvida nos círculos iniciais adventistas como justificativa para o fracasso da predição milerita de 1844. Ellen White, em diversas visões, sustentou que a porta da salvação estava fechada para todos, exceto para o pequeno grupo que aceitara a “mensagem do terceiro anjo”.

    2.1 Fundamentação e Oscilações Doutrinárias

    A teologia do shut door sofreu variantes ao longo dos anos, oscilando entre uma exclusividade salvífica rígida e uma reinterpretação gradual integrando os que aceitavam certas doutrinas adventistas, especialmente a observância do sábado.

    • Em 1849, White declarou:

      “Os mandamentos de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, relacionados ao shut door, não poderiam ser separados.” (The Present Truth, 01/08/1849)

    • Essa declaração associava o acesso à salvação ao entendimento e observância das reformas doutrinárias adventistas emergentes.

    • Outro elemento problemático: para White, negar o shut door era equivalente a blasfemar contra o Espírito Santo, o pecado imperdoável, conforme sua visão de dezembro de 1850.

    2.2 Análise Bíblica do Shut Door

    O ensinamento bíblico sobre a salvação contradiz a noção de uma porta arbitrariamente fechada à humanidade após 1844. Exemplos claros podem ser identificados:

    • O evangelho, segundo João 3:16, permanece continuamente aberto ao “mundo”:

      “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”

    • 2 Coríntios 6:2 enfatiza:

      “Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação.”

    • Nas epístolas apostólicas e em Apocalipse, não há qualquer referência a um fechamento temporário e restritivo da oportunidade de salvação baseado em datas extrabíblicas.

    Adicionalmente, o ensino de que negar uma doutrina específica (shut door) seja equivalente ao pecado imperdoável extrapola os limites da ortodoxia bíblica. O pecado contra o Espírito Santo, como definido por Jesus, refere-se à rejeição consciente e deliberada da obra do Espírito (Marcos 3:29), e não à rejeição de interpretações mileritas do Apocalipse.

    3. Mutações Doutrinárias e “Portas Abertas” no Adventismo

    A trajetória doutrinária adventista revela tentativas recorrentes de remediar as inconsistências proféticas iniciais. Após a constatação do fracasso da doutrina original do shut door, surge a noção de que, ao fechar-se uma porta — a do lugar santo no santuário celestial — abria-se outra, a do Santíssimo, dando início assim ao chamado “juízo investigativo”.

    3.1 Processo de Reinterpretação: Do Apocalipse ao Santuário Celestial

    • A leitura adventista desloca a promessa de salvação do âmbito universal do evangelho (e.g. Romanos 10:13) para um processo dependente do santuário celestial.

    • White afirma:

      “Jesus levantou-se e fechou a porta no Lugar Santo e abriu a porta no Lugar Santíssimo…”

      conferindo, assim, base profética para a doutrina adventista do santuário — conceito ausente do cânon neotestamentário.

    Historicamente, esse “ajuste interpretativo” produziu um sistema soteriológico revolucionário, atrelado não à obra eterna de Cristo consumada na cruz, mas a sucessivas etapas celestiais, segundo visões extra-bíblicas.

    3.2 Análise Bíblica: Exclusivismo Soteriológico

    Tal soteriologia exclusiva viola princípios basilares da Reforma Protestante, como o sola scriptura e sola fide:

    • A Escritura declara:

      “Ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6).

      O acesso contínuo ao Pai repousa unicamente sobre a mediação de Cristo, cujo sacrifício foi perfeito e suficiente (Hebreus 10:14).

    • Não há qualquer apoio bíblico para o fechamento ou abertura de portas dispensacionais no santuário celestial pós-cruz, muito menos para a vinculação do tempo da graça a eventos profetizados por White — o que demonstra franca contradição com os princípios apostólicos.

    4. Critérios Proféticos Bíblicos e a (Des)qualificação de Ellen White

    A questão central — Ellen White é profetisa autêntica? — deve ser respondida a partir dos critérios firmemente estabelecidos na Escritura, notadamente em Deuteronômio 13:1-5 e 18:20-22, assim como em passagens neotestamentárias.

    4.1 Teste da Falsidade Profética: Previsão e Cumprimento

    • Deuteronômio 18:22:

      “Quando tal profeta falar em nome do Senhor, e tal palavra não se cumprir, nem suceder assim, esta é palavra que o Senhor não disse; com soberba a falou o tal profeta, não tenhas temor dele.”

    • A profecia de que “o tempo quase está acabado” em 1850 não se cumpriu.

    • O shut door, à luz dos fatos, revelou-se falso: a graça permaneceu acessível ao mundo após 1844/1850.

    Logo, Ellen White, ao pronunciar palavras não realizadas — alegadamente vindas de Deus — enquadra-se no padrão de falso profeta segundo o critério mosaico.

    4.2 O Perigo da Autoridade Carismática Não Submetida à Escritura

    • Gálatas 1:8-9 condena severamente todo ensino que ultrapasse ou contrarie o evangelho apostólico:

      “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema.”

    • A preponderância da autoridade carismática adventista, via revelações extracanônicas, introduziu uma perigosa infalibilidade profética que sobrepõe a Palavra escrita.

    • O revezamento entre um “evangelho seletivo” (remanescentes) e posterior redação inclusiva (juízo investigativo) não encontra precedentes neotestamentários e tergiversa o coração do evangelho — a suficiência de Cristo para a salvação de todos quanto crêem.

    Conclusão

    Esta análise crítica demonstrou que as predições de Ellen G. White sobre o “tempo quase acabado” em 1850, no contexto do shut door, constituem claros desvios dos padrões proféticos bíblicos e trouxeram sérios prejuízos à compreensão da soteriologia e escatologia conforme reveladas nas Escrituras.

    • O uso profético equívoco do “tempo quase acabado” contradiz diretamente declarações de Jesus e dos apóstolos sobre a impossibilidade de se saber datas para o fim dos tempos (Mateus 24:36; Atos 1:7; Mateus 25:13).

    • A doutrina do shut door, como proposta nos anos iniciais do adventismo, estabeleceu um perigoso exclusivismo soteriológico, incompatível com o convite universal do evangelho (João 3:16; 2 Coríntios 6:2).

    • A consolidação e ajuste posteriores, que tentam harmonizar o fracasso profético com “novas portas abertas”, evidenciam manipulação doutrinária para manutenção da autoridade carismática — violando o princípio reformado do sola scriptura.

    • À luz do claro critério mosaico (Deuteronômio 18), Ellen White não pode ser reconhecida como profetisa autêntica, tendo proferido previsões não cumpridas e doutrinas extra-bíblicas de grave implicação eclesiológica e soteriológica.

    Para o leitor adventista que busca a verdade, é fundamental submeter todo ensinamento e toda profecia, inclusive de Ellen White, ao escrutínio das Escrituras, como fizeram os bereanos (Atos 17:11), rejeitando infalibilidade humana e retornando ao evangelho puro e suficiente de Cristo. A compreensão correta do tempo, do juízo e da salvação repousa não em pronúncios carismáticos, mas na Palavra de Deus final e completa.

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