
Dízimo no Adventismo: "Malaquias" na Mão, Ellen White no Coração
Análise bíblica do dízimo no Adventismo revela incoerências teológicas entre Malaquias, Ellen White e a nova aliança. Descubra a verdade sobre o dízimo
Resumo: Eleazar Domini do canal Fala Sério Pastor, aborda a polêmica dos dízimos, refutando a ideia de que Malaquias 3:8-10 se aplica apenas aos sacerdotes do Antigo Testamento. Defendendo que o dízimo é um princípio eterno que precede a lei de Moisés e persiste na Nova Aliança, Domini critica tanto os "lobos" que usam o texto para extorsão quanto os críticos que negam sua validade para a igreja. Contudo, este artigo expõe que a defesa adventista do dízimo não é meramente uma questão de exegese bíblica, mas uma necessidade sistêmica imposta por Ellen White, que transformou uma prática voluntária da graça em uma obrigação legalista vinculada à salvação e ao medo de "maldição". O dízimo adventista não é uma resposta à graça, mas um imposto teológico.
1. Introdução: O Retorno com o "Bolso" dos Fiéis
Após um período de férias, o pastor Eleazar Domini retorna ao seu canal abordando o tema mais sensível de qualquer denominação: dinheiro. Respondendo a um vídeo viral que afirma que Malaquias 3 ("roubará o homem a Deus?") era uma repreensão exclusiva aos sacerdotes corruptos e não ao povo, Domini monta uma defesa apaixonada da universalidade do dízimo.
Ele argumenta corretamente contra a teologia da prosperidade que extorque fiéis, mas, ao mesmo tempo, estabelece o dízimo como um dever moral inegociável para o cristão, usando a retórica de "princípio eterno" (de Abraão até hoje).
Para o observador reformado, a argumentação de Domini parece, à primeira vista, uma defesa piedosa da sustentação da obra. No entanto, o "dízimo" no Adventismo do Sétimo Dia carrega um peso teológico único. Não é apenas uma questão de generosidade; é uma questão de pacto de salvação mediado pelas ameaças de Ellen G. White. Domini defende Malaquias não apenas porque "está na Bíblia", mas porque Ellen White declarou que reter o dízimo é um pecado que trará a maldição de Deus sobre a alma.
2. A Exegese de Domini vs. A Realidade da Nova Aliança
Os argumentos centrais de Domini são:
Malaquias é para todos: Ele mostra que o texto intercala repreensões aos sacerdotes e à nação ("Judá", "filhos de Jacó"), logo, "roubar a Deus" aplica-se ao leigo também.
Princípio Pré-Mosaico: Abraão deu o dízimo a Melquizedec antes da Lei, logo, o dízimo transcende a Lei.
Jesus Validou: Em Mateus 23:23, Jesus diz aos fariseus para não omitirem o dízimo.
Refutação Reformada:
A defesa de Domini ignora a transição fundamental entre a Antiga e a Nova Aliança.
A Natureza do Dízimo em Israel: O dízimo no AT não era "oferta espiritual", era imposto estatal. Israel era uma teocracia; o dízimo sustentava a tribo de Levi (o funcionalismo público e religioso) e o sistema de bem-estar social (dízimo trienal).
Abraão e Melquizedec (Hebreus 7): Abraão deu o dízimo uma vez, do despojo de guerra, não da sua renda mensal. Não há registro de que ele dizimava regularmente seus rebanhos. O autor de Hebreus usa esse episódio para provar a superioridade de Cristo (Melquizedec) sobre Levi, não para instituir uma lei fiscal para a igreja.
Mateus 23:23: Jesus falava a judeus que ainda viviam sob a Antiga Aliança (antes da Cruz). Ele os instruiu a obedecer à Lei de Moisés (incluindo o dízimo do cominho) porque a Lei ainda estava em vigor. Após a Cruz, o véu se rasgou. No livro de Atos e nas Epístolas, nenhuma instrução sobre dízimo é dada à igreja gentílica.
O Padrão da Graça (2 Coríntios 9:7): O Novo Testamento substitui o "10% obrigatório" pela "generosidade sacrificial". O cristão não dá 10% porque tem medo de maldição; ele dá tudo o que pode porque foi comprado por Cristo. O dízimo é o piso da lei; a graça não tem teto, mas também não tem coerção.
3. A Sombra de Ellen White: O Dízimo como "Seguro contra Fogo"
O verdadeiro motivo pelo qual um pastor adventista não pode, jamais, admitir que o dízimo não é obrigatório para a igreja cristã não está em Malaquias, mas nos Testemunhos para a Igreja.
Ellen White transformou o dízimo de um princípio de gratidão em um mecanismo de medo e controle.
A Ameaça de Maldição: Em Testemunhos Seletos, vol. 1, p. 373, ela escreve: "A maldição de Deus repousará sobre aqueles que retêm o dízimo". Ela ensina que a falta de dízimo traz pobreza espiritual e material.
Roubo Literal: White afirma categoricamente que quem não dizima é um "ladrão" que está roubando diretamente de Deus, e que esse pecado será registrado nos livros do céu para o julgamento.
Controle Centralizado: Diferente da igreja primitiva, onde as ofertas eram administradas localmente para os pobres e missionários, Ellen White decretou que o dízimo deve ir exclusivamente para a "Casa do Tesouro" (a Associação/Conferência) para pagar pastores. Ela proibiu o uso do dízimo para pagar dívidas da igreja, ajudar pobres ou construir templos. O dízimo adventista serve à burocracia clerical, não aos necessitados locais.
Domini ecoa essa teologia quando diz: "Dízimo você não paga, você devolve... é um princípio de fidelidade". Na prática adventista, essa "fidelidade" é monitorada. Para ser um oficial da igreja (ancião, diácono), o membro deve ser dizimista fiel. O dízimo compra o direito de servir.
4. A Ficção da Autoridade Visionária: Ellen White como "Legisladora Financeira"
A insistência férrea no dízimo dentro do Adventismo expõe a natureza extrabíblica da seita.
A Bíblia nunca instrui a excomunhão ou a disciplina de membros por não darem o dízimo. No entanto, Ellen White elevou essa prática a um teste de lealdade.
Em seus escritos, ela frequentemente alega ter tido visões sobre as finanças dos membros:
"Vi que muitos têm retido o que pertence a Deus... O anjo disse: 'Maldito o que faz a obra do Senhor relaxadamente'..."
Essas "visões" funcionam como uma ferramenta de coerção psicológica. O membro adventista não dizima apenas porque ama a obra; ele dizima porque teme que, se não o fizer, seu nome será manchado no Juízo Investigativo. O "deus" de Ellen White é um contador cósmico que amaldiçoa quem não paga os 10%.
5. Conclusão: A Liberdade do Evangelho vs. O Jugo de Malaquias
O pastor Eleazar Domini critica os neopentecostais que vendem "vassouras ungidas", mas sua teologia do dízimo opera sob a mesma premissa de medo: "Pague, ou a maldição virá". Ele substitui o amuleto pela lei, mas o resultado é o mesmo: a consciência do crente fica presa a uma obrigação financeira para garantir o favor divino.
Para o cristão reformado, a questão financeira é resolvida na Cruz. Não somos devedores da Lei, somos devedores da Graça. Nossa contribuição não é para "evitar o gafanhoto", mas para expandir o Reino que nos salvou de graça.
O ensino de Malaquias 3 na boca do Adventismo é uma ferramenta de manutenção institucional baseada no medo, forjada pelas "visões" de uma profetisa que precisava financiar seu movimento. A igreja verdadeira é sustentada por filhos livres que ofertam com alegria, não por servos amedrontados que pagam para não serem amaldiçoados.
O Evangelho diz: "Tudo é vosso". O Adventismo diz: "10% é dEle, ou você está maldito". Escolha a liberdade.