
O adventismo ensina que os cristãos vão matá-los?
Analise se o adventismo ensina que cristãos vão matar adventistas e descubra biblicamente por que essa doutrina é insustentável. Leia antes de decidir.
Introdução
A doutrina adventista relacionada à perseguição futura dos fiéis, frequentemente denominada “lei dominical nacional”, é um dos elementos centrais da escatologia adventista do sétimo dia e suscita intensos debates teológicos. O adventismo ensina que cristãos, sob a liderança de um sindicato entre catolicismo, protestantismo apostatado e espiritismo, irão caçar e matar adventistas por se recusarem a observar o domingo. Essa perspectiva não só influencia profundamente a vida de muitos adventistas – levando-os até ao isolamento social e geográfico – como também coloca em xeque os fundamentos bíblicos desse temor escatológico. Este artigo analisa criticamente, à luz das Escrituras e da tradição teológica evangélica reformada, as bases, consequências e incoerências dessa expectativa escatológica amparada em Ellen G. White, visando uma avaliação rigorosa e honesta do ensino adventista sobre a perseguição dos últimos dias.
Discutiremos: (1) o desenvolvimento histórico-teológico da doutrina adventista sobre a perseguição e a lei dominical; (2) a construção profética e autoritária da posição de Ellen G. White; (3) a exegese bíblica e suas graves divergências com a escatologia adventista; (4) os impactos pastorais e espirituais do ensino sobre perseguição e temor ao “outro cristão”; e (5) as implicações éticas e apologéticas desta crença para o diálogo interdenominacional. Ao final, será proposta uma síntese bíblica fundamentada no evangelho e nos ensinos claros das Escrituras.
1. Desenvolvimento Histórico-Teológico da Doutrina Adventista sobre a Perseguição e a Lei Dominical
A crença adventista do sétimo dia na perseguição dos fiéis sabatistas está enraizada na escatologia montada por Ellen G. White a partir de meados do século XIX. Essa doutrina, embora singular no mapa teológico cristão, sustenta que, nos últimos dias, uma lei dominical nacional — posteriormente tornada internacional — será promulgada, obrigando todos a observarem o domingo como sagrado. A não observância seria então considerada crime capital, levando à perseguição sanguinária dos adventistas.
Sintetizando, o desenvolvimento dessa doutrina envolve:
Contextualização histórica: Numa conjuntura pós-milerita e de desconfiança em relação ao papismo nos Estados Unidos do século XIX, a hostilidade ao sábado já se estabelecia como um elemento identitário.
Envolvimento emocional: Relatórios e escritos internos adventistas evidenciam temor profundo entre fiéis, muitos dos quais optam por estilos de vida isolacionistas, marginais e antiurbanos para fugir da iminente perseguição.
Afirmação autoritativa: Citações de Ellen G. White delineiam em detalhes assustadores o momento em que cristãos professos se unirão às autoridades civis para executar os sabatistas. Ver: Eventos Finais, cap. 9.
No entanto, inexiste qualquer paralelismo exegético ou sistemático para tal cenário nas fontes primárias do cristianismo histórico. Populações protestantes e católicas divergentes jamais partilharam — histórica ou teologicamente — de iniciativas conjuntas para a aniquilação física de dissidentes sabatistas. Muito pelo contrário, ataques a grupos religiosos geralmente partiram de poderes estatais totalitários e seculares, não de confissões cristãs dominadas pelo Espírito.
A ausência de precedentes teológicos e históricos lança dúvidas significativas sobre a plausibilidade e fidelidade bíblica desse constructo escatológico, exigindo uma análise ainda mais rigorosa das suas fontes.
2. A Construção Profética da Doutrina: Ellen G. White e a Centralidade de suas Visões
No cerne da interpretação adventista da perseguição futura encontra-se o profetismo de Ellen G. White. É a partir de seus chamados “testemunhos” e “visões” que a Igreja Adventista do Sétimo Dia constrói a expectativa de que “os protestantes dos Estados Unidos serão os principais autores de uma perseguição contra os guardadores do sábado” (O Grande Conflito, cap. 36).
Essa dependência quase absoluta da autoridade de EGW para sustentar a doutrina revela pontos críticos:
Substituição da Sola Scriptura: Ao sobrepor a hermenêutica de White ao texto bíblico, o adventismo incorre num princípio contrário à reforma protestante, onde “Só a Escritura” é a única regra infalível de fé e prática (cf. 2Tm 3:16-17).
Adição de novas revelações: O cânon fechado das Escrituras (Ap 22:18-19) é violado por meio de “novos detalhes” escatológicos ausentes nos ensinos apostólicos, o que abre precedentes para todo tipo de inovação doutrinária não comprovada biblicamente.
Papel central de White: Tais profecias se tornam tanto inquestionáveis quanto manipuláveis; toda a narrativa é sangrada diretamente de sua pena, sem validação exegética do corpus apostólico.
Adicionalmente, a instrumentalização profética de White reflete um notório autoritarismo hermenêutico: questionar tais visões é considerado ato de rebelião contra “a luz maior”. Surge então um ambiente propício à manipulação espiritual, à formação de guetos psicológicos e à desconfiança do corpo de Cristo fora dos limites do adventismo.
Tal dependência de revelação “particular” contrasta frontalmente com o padrão neotestamentário, que exorta os crentes a comparar todo ensaio profético e doutrinário com a Escritura revelada (At 17:11; 1Ts 5:21).
3. Análise Bíblica das Alegações Adventistas sobre a Perseguição dos Fieis do Sábado
O ponto nevrálgico do ensino adventista reside na alegação de que a observância do sábado versus domingo será o teste final na escatologia cristã — e, por consequência, que cristãos “dominicais” perseguirão e executarão os santos sabatistas. Como se sustenta exegeticamente essa proposição?
3.1 Ausência de Base Bíblica Textual
Não há, na Escritura, qualquer passagem que afirme que o sinal distintivo dos redimidos no tempo do fim será a observância literal do sábado mosaico. Os textos favoritos do adventismo para sugerir perseguição por amor ao sábado são usualmente mal aplicados:
Apocalipse 13:15-17: O texto fala sobre a marca da besta e coerção mundial, mas não especifica o sábado/domingos como cerne do conflito. A identificação da marca com o dia de culto é artificialmente introduzida pela hermenêutica adventista.
Mateus 24:20: “Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno, nem no sábado”. O contexto imediato diz respeito à destruição de Jerusalém em 70 d.C., não a um futuro escatológico global.
Romanos 14:5: “Há quem faça diferença entre dia e dia, outros julgam iguais todos os dias. Cada um esteja plenamente convicto em sua mente”. O apóstolo Paulo relativiza a observância de dias, totalmente dissociando-os do critério da salvação.
3.2 Testemunho Bíblico sobre a Identidade dos Santos e o Fruto do Espírito
Nas Escrituras, a verdadeira marca dos salvos no tempo do fim é a fé em Cristo (Jo 5:24; Rm 10:9-10; Ap 14:12 - fé em Jesus e perseverança). A ênfase do Novo Testamento recai sobre:
Amor fraternal entre cristãos: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13:35) — jamais a perseguição de irmãos por detalhes cerimoniais da Lei mosaica.
Ausência de distinção legalista: “Ninguém vos julgue pelo comer, beber ou por causa de festas, luas novas ou sábados” (Cl 2:16-17). A redenção em Cristo transcende os rudimentos da Lei.
Fruto do Espírito: “O fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade...” (Gl 5:22-23). Onde reina o Espírito, jamais haverá sede de sangue, ódio ou perseguição religiosa entre os seguidores genuínos de Cristo.
3.3 A Antítese Bíblica ao Ensino Adventista
“Pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.” (1Jo 4:20)
Acusar sustentadamente as comunhões cristãs evangélicas e reformadas de perpetrar um genocídio espiritual e literal equivale a “acusar os irmãos” (cf. Ap 12:10), papel atribuído no NT a Satanás. Tal ensino é, portanto, profundamente antibíblico e desfigura o espírito do evangelho da reconciliação.
4. Impactos Pastorais e Espirituais do Ensino sobre Perseguição e Temor
A consequência psicológica e pastoral do ensino adventista sobre perseguição iminente é grave e duradoura. Milhares de membros, temendo serem caçados por “cristãos apóstatas”, vivem em estado de ansiedade contínua, desconfiança social e até isolamento geográfico.
4.1 Medo Patológico e Isolacionismo
Esse temor decorre de uma escatologia que enfatiza a inimizade e desconfiança entre irmãos em Cristo. Isso resulta, frequentemente, em:
Isolamento social: Membros que buscam habitar em zonas rurais remotas ou praticam “preparação” apocalíptica, movidos por medo de perseguição estatal/religiosa iminente.
Desconfiança do corpo de Cristo: Surpreendente rejeição de todas as expressões do cristianismo extra-adventista;
Distorção do discipulado: O discipulado passa a ser marcado pelo temor do “outro” ao invés do amor ao próximo, o que sabota a experiência comunitária da nova aliança.
4.2 Danos à Evangelização e Testemunho Cristão
A retórica do adventismo referente à futura perseguição pelos “cristãos” não apenas destrói pontes de diálogo, mas também sabota qualquer possibilidade de testemunho credível ao mundo descrente. Não há registro no Novo Testamento de Jesus mandando seus discípulos suspeitarem dos demais membros do corpo místico de Cristo pelo dia em que cultuam.
4.3 Opacidade Espiritual quanto à Soteriologia
A soteriologia bíblica é centrada em Cristo, não em observâncias cerimoniais: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé” (Ef 2:8-9), uma verdade ignorada quando se propaga a ideia de que a observância de um dia define o destino eterno de cada crente.
O resultado é uma fé marcada pelo medo, pela paranoia escatológica e por uma ética de gueto, adversa ao espírito do verdadeiro evangelho.
5. Implicações Éticas e Apologéticas das Alegações Adventistas sobre Perseguição
O ensino adventista de que cristãos matarão outros cristãos — especialmente por questões rituais — apresenta implicações profundamente éticas e apologéticas. Criticamente, tal afirmação:
Rompe com o mandamento do amor cristão: “Aquele que odeia seu irmão está em trevas…” (1Jo 2:11).
Semeia discórdia no corpo de Cristo: Acusar irmãos da mesma fé genuína de planejar homicídio religioso implica, no mínimo, grave irresponsabilidade ética e teológica.
Compromete o testemunho cristão diante do mundo: Em vez de promover reconciliação e unidade, cultiva o medo e a hostilidade injustificada.
Viola o conceito reformado de igreja invisível: Negar que membros de diferentes tradições nutridos pelo Espírito Santo sejam irmãos compromete o ensino bíblico da comunhão dos santos (cf. Hb 12:22-24).
5.1 O Caráter do Verdadeiro Cristão nas Escrituras
O Novo Testamento, de ponta a ponta, enfatiza que o nascido do Espírito manifesta os frutos do amor, paz, reconciliação e mansidão, jamais a perseguição religiosa. “Quem ama é nascido de Deus e conhece a Deus” (1Jo 4:7). As Escrituras são uníssonas:
“Porque Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação.” (2Tm 1:7)
Qualquer doutrina que fomente o medo, a animosidade e a segregação do corpo de Cristo carece de respaldo bíblico e prejudica a mensagem salvífica da cruz.
Conclusão
A análise rigorosa do ensino adventista acerca da perseguição por cristãos, especialmente no contexto da chamada lei dominical nacional, revela profundas inconsistências doutrinárias, abusos hermenêuticos e perigos pastorais. Ao subordinar a Sola Scriptura aos escritos de Ellen G. White, o adventismo cria um constructo escatológico inédito, antibíblico e danoso, que potencializa o medo, o sectarismo e desvirtua a ênfase bíblica na unidade e amor entre os crentes.
As Escrituras negam categoricamente qualquer tipo de justificação para perseguição entre discípulos de Cristo baseada em questões cerimoniais. O ensino do Senhor Jesus e dos apóstolos é claro: o verdadeiro povo de Deus se destaca pela fé nele (Rm 5:1), pelo fruto do Espírito (Gl 5:22-23), e pelo amor incondicional uns aos outros (Jo 13:35).
Assim, conclui-se que não existe nenhum fundamento bíblico ou teológico válido para crer que cristãos genuínos buscarão exterminar outros cristãos por causa do sábado. Ao contrário, urge o chamado ao arrependimento de toda doutrina que fomente a divisão, o medo e a suspeita do corpo de Cristo. A verdadeira marca do povo de Deus no fim dos tempos será a perseverança fiel na fé em Jesus e o amor ágape — não o legalismo ritualístico ou a desconfiança entre irmãos.
Para quem busca sinceramente a verdade bíblica, o convite é simples e poderoso:
“Examinai tudo. Retende o bem.” (1Ts 5:21)
Apegue-se à Escritura, rejeite especulações extra-bíblicas e abrace a liberdade, a segurança e a alegria que há somente em Cristo e na comunhão do seu verdadeiro corpo.