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    O Mito da "Ausência de Cristo" no Pecado: Uma Análise da Soteriologia do Esforço Humano
    Arilton Oliveira

    O Mito da "Ausência de Cristo" no Pecado: Uma Análise da Soteriologia do Esforço Humano

    Descubra por que a doutrina adventista da ausência de Cristo no pecado é biblicamente equivocada e como a verdadeira soteriologia bíblica oferece real esperança

    28 de dezembro de 20256 min min de leituraPor Rodrigo Custódio

    O diálogo entre a pedagoga Maria Cida e o Pastor Arilton revela uma tensão fundamental na compreensão da santificação. Ao responder à pergunta crucial — "Você não comete pecado?" — o orador introduz conceitos teologicamente perigosos: a ideia de que o pecado ocorre apenas quando "saímos da presença de Jesus" e a metáfora dualista das "duas onças". Estas proposições, embora soem piedosas, sugerem uma teologia onde a soberania da Graça é substituída pela performance humana e onde a Onipresença divina é condicionada pelo comportamento moral do crente. A seguir, refutaremos essas teses com base no princípio do Sola Scriptura.


    1. A Heresia da Presença Condicional

    O momento teologicamente mais crítico do vídeo ocorre no minuto 8:20, quando o pastor afirma categoricamente:

    "Ninguém peca na presença de Jesus. Ninguém. Toda vez que você peca, é porque você saiu de perto dele para cometer o pecado. Na presença dele, você não peca."

    Análise e Refutação Bíblica:
    Esta afirmação é um erro ontológico e soteriológico grave. Ela sugere que a presença de Jesus é espacial ou condicional, funcionando como um interruptor de luz: se você peca, é porque Jesus não estava ali, ou você conseguiu se esconder dEle.

    1. A Negação da Onipresença: O Salmo 139:7-8 destrói essa lógica: "Para onde me irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também." O crente peca diante de Deus. Davi, ao pecar, reconheceu: "Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista" (Salmo 51:4). O pecado não afasta a presença ontológica de Deus; ele ofende a santidade de um Deus que está presente.

    2. A Negação da Habitação do Espírito: Para o cristão, o Espírito Santo habita nele eternamente (João 14:16). Dizer que "saímos de perto dEle" para pecar implica que o Espírito Santo abandona o corpo do crente no momento da falha e retorna depois. Isso transforma a Salvação em um "ioiô" espiritual, negando a segurança eterna e a união mística com Cristo. O pecado entristece o Espírito (Efésios 4:30), mas não causa a retirada da Sua presença.

    2. A Falácia Pelagiana das "Duas Naturezas"

    Para explicar a luta contra o pecado, o pastor utiliza a ilustração (não bíblica, mas folclórica) das "duas onças" ou dois lobos (minuto 12:00), afirmando que vence aquela que você alimenta. Ele define:

    "O que que é santidade? É viver alimentando a natureza espiritual... lendo a palavra, frequentando a igreja, orando..." (12:44).

    Análise e Refutação Bíblica:
    Embora pareça prática, essa teologia é sutilmente Semi-Pelagiana. Ela coloca o fiel como o árbitro final da santificação. A lógica é: "Eu alimento o Espírito, logo eu venço".

    A Bíblia, contudo, ensina que é o Espírito quem vivifica e capacita o crente, e não as obras do crente que capacitam o Espírito.

    • Gálatas 5:17 descreve a luta entre a Carne e o Espírito, mas a vitória não vem do nosso esforço em "alimentar", mas da submissão à obra que Deus já realizou.

    • Ao reduzir a santificação a uma lista de tarefas (ler, ir à igreja, ajudar), o orador transforma a Graça em uma recompensa por disciplina religiosa. A verdadeira santificação é fruto da fé na obra consumada de Cristo, não combustível gerado por ativismo humano. Paulo pergunta aos Gálatas: "Recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé?" (Gálatas 3:2). A resposta do vídeo sugere "pelas obras da lei".

    3. A Confusão entre Posição e Condição

    A pedagoga Maria Cida faz a pergunta de "um milhão de dólares" no minuto 0:02 e repete no 7:26: "Você então também é uma pessoa livre do pecado? Quer dizer, você não comete pecado?".
    O pastor responde desviando para a teologia dos "três tempos" (Justificação, Santificação, Glorificação), admitindo que ainda temos a "natureza carnal", mas insistindo que somos "libertos do poder do pecado" (7:44).

    Análise e Refutação Bíblica:
    O perigo aqui é a definição de "liberto do poder do pecado". Na teologia perfeccionista (comum em correntes adventistas e de santidade), isso é frequentemente interpretado como a capacidade de viver sem pecar se você se esforçar o suficiente (ou "não sair da presença").
    Contudo, o Apóstolo João é claro em 1 João 1:8: "Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós."
    A resposta honesta e bíblica à pedagoga seria: "Maria, eu sou declarado santo pela justiça de Cristo imputada a mim (Romanos 4:5), mas na minha carne ainda habita o pecado (Romanos 7:18). Eu peco diariamente por pensamento, palavra e obra, e dependo da graça tanto hoje quanto no dia em que fui salvo."
    Ao dizer que "na presença dele você não consegue pecar" (8:39), o pastor coloca um fardo insuportável sobre os ouvintes: se eles pecaram hoje, é porque expulsaram Jesus de suas vidas. Isso gera hipocrisia (fingir que não peca) ou desespero.

    4. Eclesiologia Utilitária

    No final (13:41), ao responder sobre a importância da igreja, o argumento é funcional: vamos à igreja para "nos fortalecer" e porque "ninguém vive o cristianismo isolado".
    Embora verdadeiro em parte, perde o principal. O culto bíblico não é uma "recarga de bateria" para que eu possa lutar contra a onça carnal durante a semana. O culto é uma reunião pactual onde Deus serve o seu povo através da Palavra e dos Sacramentos, e o povo responde em adoração. A ênfase do vídeo no "fazer" (ir à igreja para ficar forte) é mais uma vez centrada no homem, em vez de centrada na glória de Cristo e na comunhão dos santos como corpo místico.

    5. Conclusão

    A teologia apresentada no vídeo falha em oferecer o verdadeiro conforto do Evangelho.

    1. Cria um Deus que se ausenta: Um Jesus que "sai de perto" quando falhamos não é o Bom Pastor que busca a ovelha perdida.

    2. Cria uma Salvação por Obras: A santificação torna-se um concurso de quem alimenta melhor a sua "onça espiritual".

    3. Nega a Realidade da Luta: Ao sugerir que é possível "não conseguir pecar" se estivermos na presença de Deus, ignora a realidade da concupiscência que habita em nós até a morte.

    A resposta bíblica é que somos simultaneamente justos e pecadores (Simul Justus et Peccator). Nossa segurança não está em o quanto conseguimos "ficar perto" ou "alimentar a onça", mas no fato de que Cristo nos segurou e prometeu que ninguém nos arrebatará da Sua mão (João 10:28), mesmo nos nossos piores dias.

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    Referências Bibliográficas

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    (). Salmo 139:7-8. Bíblia.

    [2]

    (). Salmo 51:4. Bíblia.

    [3]

    (). João 14:16. Bíblia.

    [4]

    (). Efésios 4:30. Bíblia.

    [5]

    (). Gálatas 5:17. Bíblia.

    [6]

    (). Gálatas 3:2. Bíblia.

    [7]

    (). Romanos 4:5. Bíblia.

    [8]

    (). Romanos 7:18. Bíblia.

    [9]

    (). 1 João 1:8. Bíblia.

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    (). Bíblia Sagrada. Versão Almeida Revista e Atualizada - ARA.

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    BERKHOF, L. (2012). Teologia Sistemática. Cultura Cristã.

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    HORTON, M. (2011). The Christian Faith: A Systematic Theology for Pilgrims on the Way. Zondervan.

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    PACKER, J. I. (1993). Concise Theology. Tyndale House.

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    SPROUL, R. C. (1997). Grace Unknown: The Heart of Reformed Theology. Baker Books.