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    O que é a "Expiação"
    Salvação - Soteriologia

    O que é a "Expiação"

    Descubra o que é a expiação segundo a Bíblia, compare as doutrinas adventista e reformada e veja por que a cruz é suficiente para a salvação. Leia e reflita!

    26 de dezembro de 20259 min min de leituraPor Rodrigo Custódio

    Introdução

    No centro do debate teológico cristão, a questão “What is the atonement?” (O que é a expiação?) emerge como tema fundamental que define a compreensão da salvação, da obra de Cristo e da reconciliação entre Deus e o homem. Na teologia cristã ortodoxa, atonement refere-se à obra consumada do Deus Trino em reconciliar a humanidade pecadora consigo mesmo, mediante o sacrifício vicário de Jesus Cristo na cruz. No entanto, a teologia da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) propõe uma compreensão substancialmente distinta, localizando a plenitude da expiação não na cruz, mas em uma suposta fase posterior no santuário celestial, por meio do chamado juízo investigativo. Este artigo propõe uma análise crítica, rigorosa e fundamentada biblicamente da doutrina adventista da expiação, comparando-a com a tradição evangélica/reformada e expondo suas implicações soteriológicas. Serão examinadas as dimensões bíblicas da expiação, a centralidade da cruz, o significado do sangue de Cristo e os erros estruturais no modelo adventista de expiação. O estudo pretende desafiar pressupostos adventistas e apresentar uma defesa apologética da genuína doutrina bíblica da expiação, incentivando o leitor a examinar diligentemente a fé à luz das Escrituras.

    1. Expiação na Teologia Cristã Bíblica: Conceito, Fundamentação e Centralidade da Cruz

    A palavra “atonement” ou expiação, na teologia cristã, denota o ato redentivo do Deus Triúno para restaurar a comunhão originalmente quebrada pelo pecado. Classicamente, a expiação é compreendida como o instrumento eficaz da reconciliação, sendo Jesus Cristo o mediador único entre Deus e os homens (1 Timóteo 2:5). Não há ambiguidade sobre onde se dá esta reconciliação: é na cruz, pelo sacrifício específico de Cristo, que a barreira do pecado é removida (Efésios 2:13-16). No Antigo Testamento, os sacrifícios e o sistema levítico serviam como sombras (“tipo”) do sacrifício perfeito e definitivo; como afirma Hebreus 10:1, “a Lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas”. O ritual do Yom Kippur (Levítico 16) prefigurava a necessidade de purificação do pecado por meio do sangue, porém era provisório e repetitivo. Em contraste, o Novo Testamento declara:

    “Mas agora, uma vez por todas, ao cumprimento dos séculos, se manifestou para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo.” (Hebreus 9:26)

    A expiação bíblica se realiza no evento histórico da cruz, onde o próprio Jesus invoca: “Está consumado” (João 19:30). A morte vicária de Cristo remove efetivamente a culpa do pecado e propicia a reconciliação definitiva (Romanos 5:9-11). Aqui se fazem presentes três componentes essenciais:

    • Substituição Penal: Cristo recebe o castigo devido por pecadores, como em 2 Coríntios 5:21.

    • Propiciação: O sacrifício de Jesus satisfaz justamente a ira de Deus (Romanos 3:25; 1 João 2:2).

    • Reconciliação: O resultado da expiação é a restauração da comunhão plena (Colossenses 1:20).

    Biblicamente, não há base para se afirmar fases sucessivas da expiação após o evento da cruz. O perdão, a justificação e a reconciliação são realidades presentes e irrevogáveis para todos os que creem (Romanos 5:1; Hebreus 10:14).

    1.1 Perspectiva Reformada sobre a Expiação

    A tradição reformada rejeita qualquer teorização que dilua ou transfira a eficácia da expiação para eventos posteriores extra-cruz. Como sintetiza João Calvino, “toda a expiação se consumou na cruz, uma vez por todas, não havendo mais necessidade de sacrifícios ou ministrações sacerdotais”.

    2. A Doutrina Adventista da Expiação: Santuário Celestial, Juízo Investigativo e Implicações Soteriológicas

    A escatologia e a soteriologia adventistas reinterpretam radicalmente o significado de expiação. Fundamentada nas visões de Ellen G. White e na leitura tipológica do santuário, a IASD postula um modelo bifásico: a expiação inaugurada na cruz, mas finalizada posteriormente, durante o chamado “juízo investigativo” iniciado supostamente em 1844, no santuário celestial. Conforme Jon Paulien (Salvation: Contours of Adventist Soteriology, p. 189), “quando Adventistas falam da expiação, referem-se especificamente ao que Jesus está fazendo agora no santuário celestial” — distinguindo-se claramente da tradição teológica que vê a expiação plenamente consumada na cruz.

    2.1 Juízo Investigativo: Origem e Características

    O núcleo do pensamento adventista repousa sobre as seguintes proposições:

    1. O sacrifício de Cristo inaugurou, mas não completou, a obra da expiação.

    2. Após 1844, Cristo teria iniciado uma nova fase de ministério sacerdotal, examinando registros em um juízo investigativo celeste.

    3. A efetiva remoção dos pecados dos crentes se dá apenas após esta investigação, e não na justificação pela fé logo após a cruz.

    Este modelo deriva de uma interpretação equivocada de Daniel 8:14 e do paralelismo tipológico do Yom Kippur.

    2.2 Análise Crítica: Problemas Teológicos Centrais do Modelo Adventista

    A doutrina adventista da expiação enfrenta sérias objeções bíblicas e teológicas:

    • Redução da suficiência da cruz: Ao postular duas fases da expiação, subentende-se que a morte de Cristo teria sido eficaz apenas parcialmente.

    • Contradição com o ensino bíblico sobre o perdão imediato: Textos fundamentais, como Colossenses 2:13-15, ratificam o perdão de todos os pecados já consumado na cruz.

      “E a vós, quando estáveis mortos em vossos delitos..., juntamente com ele vos deu vida, perdoando todos os delitos, tendo cancelado o escrito de dívida...” (Colossenses 2:13-14)

    • Deturpação da propiciação: A expiação bíblica implica o apaziguamento definitivo da ira divina, algo incompatível com o modelo de “expiação prolongada” até o fim da história.

    • Risco de ansiedade espiritual: A incerteza sobre a real efetivação do perdão alimenta um legalismo soteriológico incompatível com a segurança oferecida pelo Evangelho (Romanos 8:1).

    3. O Sacrifício Perfeito de Cristo: Hebreus e o Fim dos Sacrifícios Provisórios

    O livro de Hebreus destaca com exímia clareza teológica que a expiação realizada por Cristo é suprema e definitiva, abolindo toda necessidade de ritualismos posteriores. O sacerdócio de Cristo “segundo a ordem de Melquisedeque” é apresentado como superior e consumador (Hebreus 7:23-28).

    “Porque com uma só oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados.” (Hebreus 10:14)

    A obra de Cristo não necessita repetição, adição ou complementação. Sua ascensão e sessão à direita do Pai atestam a conclusão de sua obra redentora:

    “Depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas.” (Hebreus 1:3)

    A concepção adventista de um “juízo investigativo” é frontalmente contrária às declarações inequívocas do texto bíblico:

    • Hebreus 9:22: “Sem derramamento de sangue não há remissão.” O juízo investigativo não envolve novo derramamento de sangue, logo, não produz nova remissão.

    • Hebreus 9:26: “Agora, ao fim dos tempos, se manifestou... para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo.” Nenhuma etapa tardia.

    3.1 O Novo Pacto e o Perdão Pleno

    O perdão pleno e definitivo foi prometido no Novo Pacto, como profetizado em Jeremias 31:31-34, texto citado enfaticamente em Hebreus:

    “Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei.” (Jeremias 31:34)

    Não há espaço para um recordatório investigativo ou para processos celestiais onde pecados já perdoados poderiam novamente ser investigados ou relembrados. O evangelho elimina completamente o conceito de remissão parcial ou progressiva.

    4. Implicações Soteriológicas do Modelo Adventista: Anulação da Segurança em Cristo

    As consequências pastorais e existenciais do modelo adventista da expiação são graves. Ao condicionar o perdão definitivo a eventos futuros, o fiel adventista permanece em constante incerteza quanto à sua aceitação diante de Deus.

    4.1 A Doutrina Reformada da Segurança e Justificação

    O Novo Testamento insiste que os crentes verdadeiros estão já justificados e reconciliados:

    “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus...” (Romanos 5:1)

    “Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” (Romanos 8:1)

    A justificação não é um veredito postergado, mas uma realidade presente, objetivamente fundada na morte e ressurreição de Cristo. Em contraste, o adventismo enfatiza uma ética de exame permanente, baseada em obras, que flerta perigosamente com o legalismo e a negação da graça gratuita.

    4.2 A Anulação da Eficácia da Cruz

    O ensino do juízo investigativo representa, nos termos paulinos, um “outro evangelho” (Gálatas 1:6-9), pois implica a necessidade de um complemento à obra perfeita do Calvário. As afirmações de Uriah Smith e W. H. Littlejohn, ambas negando a completude da expiação na cruz, ilustram uma clara ruptura com a fé apostólica:

    “Cristo não fez expiação quando derramou seu sangue na cruz.” (Uriah Smith, 1876)

    Este tipo de declaração é teologicamente herético, pois contradiz frontalmente o cerne da mensagem do Novo Testamento: salvação consumada no Cristo crucificado e ressuscitado.

    5. O Papel das Obras e a Subversão da Justificação Pela Fé

    O modelo adventista, ao inserir um elemento de avaliação pós-mortem do histórico de fidelidade do crente, desvirtua a doutrina da justificação exclusivamente pela graça mediante a fé (Efésios 2:8-9). Ao condicionar a consumação da expiação à conduta subsequente e ao exame investigativo, introduz uma dimensão meritória e subjetiva no processo salvífico, em dissonância completa com o evangelho paulino.

    • O argumento paulino é contundente: “Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.” (Efésios 2:8-9)

    • O sistema adventista, ao invés, propõe um retorno implícito ao sola fide mitigado, dependente da perseverança e desempenho humano passível de juízo.

    Assim, a doutrina adventista desloca o fundamento da esperança cristã do evento objetivo da cruz para a performance subjetiva e avaliativa do fiel, invertendo totalmente a ordem dos fatos proclamada pelo Novo Testamento.

    5.1 Consequências Práticas e Pastorais

    Do ponto de vista pastoral, tal doutrina produz insegurança crônica, escrúpulos espirituais e alienação do descanso prometido no evangelho. O ensino da segurança plena, proclamado por Jesus (“ninguém as arrebatará de minha mão” — João 10:28), é substituído pela possibilidade constante de exclusão final, anulando a certeza do amor eletivo e eficaz de Deus (Romanos 8:31-39).

    Conclusão

    A análise crítica da doutrina adventista do “atonement” revela uma série de inconsistências teológicas e bíblicas de profunda gravidade. O ensino de que a expiação não foi completada na cruz, mas aguarda finalização no santuário celestial e no juízo investigativo, contraria de maneira explícita os ensinos das Escrituras tanto quanto a tradição evangélica/reformada. Textos como Hebreus 9:22, 9:26, 10:14, Romanos 5:1 e 8:1, Colossenses 2:13-15 e Jeremias 31:31-34 refutam inequivocamente qualquer ideia de expiação progressiva, reiterando que o perdão de Deus é presente, completo e irrevogável para os que creem em Cristo. A fé cristã genuína repousa exclusivamente no sacrifício consumado de Cristo, fonte única da reconciliação, da propiciação e da justificação. O modelo adventista, ao deslocar o foco para uma obra sacerdotal pós-cruz, anula a suficiência da cruz e obscurece a clareza do Evangelho. Encorajamos, portanto, todo leitor adventista a submeter honestamente sua fé à luz das Escrituras, rejeitando ensinos que pervertem o Evangelho de Cristo, e abraçando a certeza gloriosa da salvação já conquistada pelo Cordeiro de Deus, que “tirou o pecado do mundo” (João 1:29), de uma vez por todas e para sempre.

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