
Os pecados dos crentes foram perdoados na cruz?
Descubra a análise crítica bíblica sobre se os pecados dos crentes foram perdoados na cruz e por que a doutrina adventista é incompatível com as Escrituras.
Introdução
O cancelamento dos pecados dos crentes na cruz representa uma das questões mais controversas e teologicamente essenciais ao se avaliar a doutrina adventista do sétimo dia à luz das Escrituras. A denominação Adventista sustenta que o perdão efetivo dos pecados não ocorreu na cruz, mas sim por meio do julgamento investigativo iniciado em 1844, com base em interpretações particulares e na orientação de Ellen G. White. Em contraste, a teologia evangélica reformada afirma que, biblicamente, todos os pecados dos crentes foram definitivamente cancelados mediante o sacrifício vicário de Cristo no Calvário. Este artigo examina criticamente a doutrina adventista sobre o suposto não cancelamento dos pecados na cruz, confrontando-a com uma análise exegética robusta das principais passagens neotestamentárias, a história da teologia cristã e implicações para a soteriologia. A partir desse exame, buscaremos elucidar as inconsistências e riscos da posição adventista, apresentando uma resposta fiel ao ensino bíblico sobre a completude da expiação efetuada por Cristo.
1. A Doutrina Adventista sobre o Cancelamento dos Pecados: Uma Análise Crítica
A doutrina adventista sobre o não cancelamento dos pecados na cruz fundamenta-se quase exclusivamente nos escritos de Ellen G. White e nos pioneiros da denominação. Para o adventismo, a cruz foi apenas o início da expiação; os pecados dos crentes permanecem “registrados nos livros do céu” aguardando o suposto processo de julgamento investigativo, iniciado em 1844.
1.1 Perspectiva Adventista: Expiação Incompleta e Juízo Investigativo
A doutrina adventista sustenta que a morte de Cristo não efetuou o cancelamento pleno dos pecados, mas constituiu apenas a provisão do sacrifício (cf. Uriah Smith, Advent Review and Sabbath Herald, 1876).
Segundo Ellen G. White, “nenhum pecado será perdoado até que ocorra o juízo investigativo” (“The Great Controversy”, p. 486-490).
O adventismo ensina que, desde 1844, Cristo está executando um juízo no santuário celestial, onde inicia o “aniquilamento dos registros de pecado”—uma doutrina sem qualquer paralelo na teologia cristã histórica.
Esse ensino subverte a centralidade e a suficiência da cruz, deslocando a ênfase do cancelamento dos pecados do Calvário para um processo celeste futuro incerto.
1.2 Implicações Teológicas da Posição Adventista
Minimiza a obra consumada de Cristo, apresentando uma expiação incompleta e dependente do desempenho humano (obras, perseverança, fidelidade à lei, etc.).
Introduz um elemento de incerteza e angústia na salvação: o crente só saberá se seus pecados foram verdadeiramente cancelados ao final do juízo investigativo.
Coloca a experiência soteriológica adventista em franco contraste com o testemunho bíblico e reformado de segurança eterna (cf. Romanos 8:1, 33-34).
Conclusão desta seção: A doutrina adventista sobre o cancelamento dos pecados é teologicamente problemática, pois retira da cruz sua suficiência, promovendo um sistema híbrido e intrinsecamente inseguro de justificação.
2. O Testemunho Bíblico: O Cancelamento dos Pecados dos Crentes Foi Realizado na Cruz
A análise exegética das Escrituras revela inequivocamente que o cancelamento dos pecados dos crentes ocorreu na cruz, em completo contraste com a posição adventista. Textos neotestamentários essenciais demonstram a suficiência, definitividade e unicidade do sacrifício de Cristo.
2.1 A Necessidade da Remissão Através do Sangue: Hebreus 9:22, 26
“Sem derramamento de sangue não há remissão.” (Hebreus 9:22)
O autor de Hebreus enfatiza enfaticamente que o perdão só pode ser efetuado por meio do derramamento do sangue. Esse ato é singular e consumado na cruz.
“Ora, na consumação dos séculos, uma vez por todas se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo.” (Hebreus 9:26)
Cristo não está “continuando” a expiar os pecados no céu; Ele resolveu completamente a questão do pecado na cruz, em sua morte substitutiva.
2.2 O Certificado de Dívida Cancelado: Colossenses 2:13-15
“Tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós... cravando-o na cruz.” (Colossenses 2:14)
O termo grego cheirographon refere-se a um “registro de dívida legal”; Paulo utiliza explicitamente o vocabulário legal para afirmar que o débito de nossos pecados foi cancelado e retirado na cruz.
Muitos adventistas, bem como intérpretes desatentos, confundem o objeto do cancelamento como sendo a Lei ou suas cerimônias. Contudo, a análise lexical demonstra que Paulo se refere ao registro judicial do pecado, não à abolição da Lei como tal. O argumento é reforçado pela frequência com que as Escrituras ligam “pecado” a “dívida legal” (1 João 3:4; Mateus 6:12).
2.3 Outras Passagens Fundamentais
“Eu, eu mesmo, sou o que apaga as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro mais.” (Isaías 43:25)
“Como está longe o oriente do ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões.” (Salmo 103:12)
“Pelas suas pisaduras fomos sarados.” (Isaías 53:5)
Estes textos reiteram a realidade objetiva e definitiva do perdão de pecados, realizado única e exclusivamente pelo sacrifício de Cristo.
3. A Rejeição Adventista do Cancelamento dos Pecados na Cruz e a Fragilização da Soteriologia Cristã
A posição adventista, ao negar que os pecados dos crentes foram cancelados na cruz, mina a base da segurança da salvação e produz angústia espiritual injustificável. Esse perigo teológico se evidencia especialmente em três áreas: garantia da justificação, natureza da expiação e certeza da vida eterna.
3.1 A Segurança do Perdão na Teologia Bíblica
A Bíblia ensina que a justificação ocorre plenamente no ato de fé em Cristo, baseada na obra completa consumada na cruz (Romanos 5:1-2).
A natureza do sacrifício de Cristo é descrita como “único, suficiente e perfeito” (Hebreus 10:10-14), contrário à proposta de “fases sucessivas” ou necessidade de complementos no santuário celestial.
A certeza da salvação, para o crente em Cristo, é inabalável porque “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1).
Negar o cancelamento dos pecados na cruz implica que o crente permaneça sob perigo constante de condenação, tornando a soteriologia adventista incompatível com o evangelho da graça.
3.2 As Consequências Doutrinárias do Entendimento Adventista
Ao sustentar que os pecados permanecem “em registro” até um futuro incerto (juízo investigativo), o adventismo revive elementos do antigo sistema levítico que a própria carta aos Hebreus declara obsoleto (Hebreus 8:13).
A doutrina do juízo investigativo nega a eficácia da cruz, pois, segundo o adventismo, o crente não pode possuir garantia plena do status de perdoado antes do fim desse processo judicial celestial.
Isso substitui a confiança bíblica na redenção eterna por uma espécie de ansiedade salvífica, fruto de um sistema meritório e inseguro.
4. O Testemunho dos Pioneiros Adventistas: Erros Históricos e Teológicos Fundamentais
Os próprios fundadores do adventismo assumiram e proclamaram publicamente que o cancelamento dos pecados dos crentes não ocorreu na cruz. Os escritos desses líderes, ao serem contrastados com a revelação bíblica e a tradição cristã histórica, demonstram grave desvio hermenêutico e teológico.
4.1 Uriah Smith e Wolcott Hackley Littlejohn: Negando o Coração do Evangelho
Uriah Smith, no Advent Review and Sabbath Herald (1876), pontou: "Cristo não fez expiação ao derramar seu sangue na cruz. Que este ponto permaneça para sempre fixo em sua mente."
Littlejohn afirmou: “Não, senhor, eu não creio que os pecados foram expiados na cruz... O ensino é contrário à razão e à Escritura.”
Tais afirmações contrariam frontalmente o ensino bíblico unificado de que a cruz é o ponto central e conclusivo da expiação (cf. João 19:30 “Está consumado!”).
4.2 Implicações Práticas e Pastorais
Ensinar que o perdão é condicional a um evento futuro e extrabíblico (juízo investigativo) paralisa a vida devocional, impede a plena adoração e mina a certeza do perdão.
Nega a promessa de Cristo que todo aquele que crê já passou da morte para a vida e não entra em juízo (João 5:24).
Traz confusão quanto à natureza do evangelho e encoraja a busca por segurança em obras, e não em Cristo.
Isso evidencia uma ruptura clara com o núcleo central da fé cristã desde os apóstolos, ecoando mais os erros de heresias legalistas do que o ensino dos evangelhos e das cartas paulinas.
5. A Natureza Jurídica do Pecado e do Perdão: Exegese de Colossenses 2 e o Conceito de Cheirographon
Colossenses 2:13-15 é fundamental para compreender a realização jurídica do cancelamento dos pecados na cruz. O termo cheirographon torna explícito que a dívida do pecado é um problema legal, solucionado de modo definitivo na morte de Cristo.
5.1 Cheirographon como Registro de Dívida Legal
Cheirographon significa um manuscrito, uma confissão genuína de débito — linguagem formal dos tribunais romanos e gregos.
Sua única ocorrência em todo o Novo Testamento (Colossenses 2:14) enfatiza a ideia de “prova documental da dívida”, ou seja, a acusação legal diante de Deus devido ao pecado.
Jesus não apenas removeu a culpa subjetiva dos pecados; Ele cancelou e destruiu judicialmente todo registro deles perante o tribunal divino, ao se sacrificar no Calvário.
5.2 Parâmetros Bíblicos do Perdão e do Esquecimento dos Pecados
O Antigo Testamento já prefigurava o esquecimento ativo de Deus sobre os pecados perdoados (Isaías 43:25; Isaías 44:22).
O Novo Testamento escreve com clareza: “porque serei misericordioso para com suas iniquidades, e de seus pecados jamais me lembrarei” (Hebreus 8:12).
Não há sequer uma inferência bíblica de que a dívida perdoada permanece registrada ou poderá ser empregada novamente contra o crente.
Em vez de um sistema soteriológico progressivo ou condicional, as Escrituras ensinam que “fomos justificados gratuitamente, por Sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Romanos 3:24).
6. Exercício Pastoral: A Aplicação Prática da Doutrina Bíblica do Cancelamento dos Pecados
A verdade do cancelamento dos pecados dos crentes na cruz tem implicações pastorais e práticas profundas. A teologia bíblica da cruz proporciona:
Segurança Eterna: “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.” (João 5:24)
Consciência Limpa diante de Deus: “Porque com uma só oferta aperfeiçoou para sempre os que estão sendo santificados.” (Hebreus 10:14)
Paz e Alegria no Evangelho: O crente não precisa viver na ansiedade de aguardar um juízo futuro para saber o destino de seus pecados.
O ensino adventista, ao privar o indivíduo desse evangelho de graça certa e consumada, incorre em grave responsabilidade pastoral e teológica, perpetuando dúvidas e temores incompatíveis com a obra redentora de Cristo.
Conclusão
A análise crítica detalhada da doutrina adventista do cancelamento dos pecados, à luz da Escritura, demonstra sua incompatibilidade com a revelação bíblica. O adventismo, ao negar que os pecados dos crentes foram cancelados plenamente na cruz, mina a suficiência da obra redentora de Cristo, reinventa um sistema legal de registros de culpa e estabelece bases inseguras e extrabíblicas para a esperança do crente.
A Bíblia, ao contrário, é peremptória: o perdão dos pecados foi conquistado através do sangue de Cristo, sendo o registro de nossas transgressões judicialmente anulado no momento do sacrifício. Textos claros como Hebreus 9:22, Hebreus 9:26, Colossenses 2:14-15, Isaías 43:25, João 19:30 e Romanos 8:1 desautorizam qualquer ensino que postule uma expiação incompleta ou um perdão adiado ao futuro.
Para aqueles que buscam respostas bíblicas e segurança na obra de Cristo, a verdade é clara: o perdão é presente, completo e irrevogável, fundamentado na cruz. Encorajamos leitores adventistas inquietos a retornarem ao evangelho da graça — onde não há mais culpa, registro ou juízo àqueles que estão em Cristo Jesus. O coração do evangelho reside, não em registros mantidos nos livros do céu, mas no sangue vertido no Calvário, suficiente para perdoar, justificar e garantir, aqui e agora, a salvação eterna do crente.
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