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    Qual livro de Ellen White diz que as outras igrejas são caídas?
    Ellen White

    Qual livro de Ellen White diz que as outras igrejas são caídas?

    Descubra em qual livro Ellen White declara que as outras igrejas são caídas e analise biblicamente as implicações dessa doutrina adventista. Confira a análise crítica.

    27 de dezembro de 20258 min min de leituraPor Rodrigo Custódio

    Uma das questões mais sensíveis no diálogo inter-religioso envolve a visão da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) sobre outras denominações cristãs. Frequentemente, questiona-se: Onde exatamente Ellen G. White afirma que as outras igrejas estão "caídas"? A resposta não se encontra em apenas uma frase isolada, mas constitui a espinha dorsal de sua obra mais famosa, "O Grande Conflito" (The Great Controversy), e permeia seus escritos em "Primeiros Escritos" e "Testemunhos para a Igreja".

    Este artigo documenta as afirmações de Ellen White de que as igrejas protestantes e a Igreja Católica constituem a "Babilônia" apocalíptica, estando em estado de queda moral e espiritual irreversível.

    1. O Livro Central: O Grande Conflito

    A obra onde esta doutrina é exposta com maior clareza e vigor teológico é O Grande Conflito. No capítulo intitulado "O Clamor Final" (e em capítulos anteriores sobre a Reforma e o pós-1844), White reinterpreta a profecia de Apocalipse 14:8 ("Caiu, caiu a grande Babilônia") e Apocalipse 18.

    A Identificação das Igrejas Protestantes como Babilônia

    Ellen White argumenta que, ao rejeitarem a mensagem do "Segundo Advento" (no movimento milerita de 1844) e a doutrina do Sábado, as igrejas protestantes tornaram-se parte de Babilônia.

    Citação Chave:
    "Babilônia é descrita como 'mãe das prostitutas'. Por suas filhas devem ser simbolizadas as igrejas que se apegam às suas doutrinas e tradições, e seguem seu exemplo de sacrificar a verdade e a aprovação de Deus, a fim de estabelecer uma aliança ilícita com o mundo. A mensagem de Apocalipse 14, anunciando a queda de Babilônia, deve aplicar-se às corporações religiosas que se tornaram corruptas..."

    — O Grande Conflito, p. 382, 383 (Edição da Casa Publicadora Brasileira).

    Ela prossegue especificando que essa queda não se restringe a Roma, mas abrange o protestantismo apostatado:

    "Muitas das igrejas protestantes estão seguindo o exemplo de Roma... [...] A queda de Babilônia não será completa senão quando essa condição for atingida, e a união da igreja com o mundo se tenha consumado em toda a cristandade."
    — O Grande Conflito, p. 389, 390.

    2. Primeiros Escritos: A Visão do "Trem Expresso"

    Em seu livro Primeiros Escritos, que contém suas primeiras visões, a condenação é ainda mais gráfica. White relata uma visão onde Deus aparentemente retirou Sua presença das igrejas nominais após 1844, deixando-as sob influência satânica.

    A Oração Dirigida a Satanás

    White descreve uma cena onde Jesus muda de lugar no Santuário Celestial em 1844. Aqueles que não seguiram essa "luz" (os membros das outras igrejas) ficaram nas trevas, orando a um espírito errado.

    Citação Chave:
    "Vi que, visto como Jesus havia deixado o lugar santo do santuário celestial... a luz não se derramava sobre eles, e deles o Espírito Santo foi retirado... Como o Espírito de Deus saísse daquelas igrejas e de suas famílias, Satanás lhes comunicou o seu batismo... Vi que a oração dessa gente era abominável aos olhos de Deus."

    — Primeiros Escritos, p. 274, 275.

    Em outra passagem perturbadora da mesma obra, ela descreve as igrejas que rejeitaram o Sábado e o Juízo Investigativo:

    "Vi que, desde que Jesus deixou o lugar santo do santuário celestial... Satanás tomou plena posse das igrejas em corpo. [...] As igrejas foram deixadas como os judeus; e encheram-se de toda ave imunda e aborrecível."
    — Primeiros Escritos, p. 274.

    Esta afirmação de que Satanás "tomou plena posse" das igrejas protestantes é, talvez, a declaração mais forte de sectarismo em toda a sua literatura.

    3. A Teologia da "Queda Progressiva"

    É importante notar a nuance na teologia de White. Ela não diz que todos os indivíduos nessas igrejas estão perdidos (ainda). Ela afirma que há "povo de Deus" em Babilônia, mas que as instituições (as igrejas em si) estão caídas e são sistemas de perdição.

    A salvação desses indivíduos depende de eles saírem dessas igrejas antes do fim.

    "A grande culpa refere-se ao que ela [Babilônia/Igrejas] é agora... Ela caiu porque rejeitou a verdade que lhe foi enviada do Céu. ... Entretanto, ainda há verdadeiros cristãos nessas igrejas."
    — Testemunhos Seletos, Vol. 3, p. 285.

    A "verdade enviada" a que ela se refere é especificamente a teologia adventista do Sábado e do Santuário. Portanto, a definição de "igreja caída" é qualquer denominação que, tendo tido contato com a doutrina adventista, a rejeitou.

    4. Análise Crítica: Os Problemas Teológicos e Hermenêuticos

    A visão de Ellen White sobre a queda das igrejas repousa em várias premissas que não resistem ao escrutínio bíblico e histórico:

    4.1 A Interpretação Exclusivista de Babilônia

    Ellen White limita a profecia de Babilônia em Apocalipse 18 exclusivamente às denominações que rejeitam o Sábado e a teologia adventista. Contudo, o próprio texto de Apocalipse descreve Babilônia de modo muito mais amplo:

    "Porque todas as nações beberam do vinho da ira da sua fornicação, e os reis da terra com ela se prostituíram, e os mercadores da terra se enriqueceram com a abundância do seu luxo."
    — Apocalipse 18:3.

    A Babilônia de João é um sistema político-religioso sincrético, centrado na idolatria civil e no sincretismo pagão-imperial. Não é uma declaração sobre o status soteriológico de todas as denominações cristãs que discordam da IASD.

    4.2 A Anulação do Espírito Santo em Denominações Inteiras

    A afirmação de que o Espírito Santo foi retirado das igrejas nominais em 1844 contradiz a promessa de Cristo em Mateus 28:20 ("Eis que estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos") e a doutrina da habitação do Espírito em todos os redimidos (1 Coríntios 12:12-13).

    Se o Espírito Santo verdadeiramente saiu de denominações inteiras, isto significaria:

    • Que conversões acontecidas em igrejas batistas, metodistas, presbiterianas após 1844 não são conversões genuínas (contradição com a experiência histórica de avivamento nessas igrejas).

    • Que o batismo desses cristãos não é válido (uma posição não bíblica).

    • Que a Palavra de Deus não opera em suas pregações (contradição com 1 Pedro 1:23-25).

    4.3 O Problema do Fechamento Dogmático

    White declara definitivamente (em 1844) que a "porta da graça" foi fechada para as outras igrejas. Isto cria um sistema teológico fechado à refutação histórica ou bíblica: qualquer sucesso espiritual em outras denominações é reinterpretado como engano satânico.

    Esta é uma característica clássica do pensamento sectário: o sistema se torna imune à crítica porque o próprio mecanismo de avaliação foi controlado.

    5. Recuperando a Ortodoxia Cristã

    1. A Missão Adventista Pode Ser Mantida sem Exclusivismo: Os adventistas podem manter convicções legítimas sobre a importância do Sábado, a profecia de Daniel, e a purificação do santuário sem afirmar que todas as outras igrejas estão possuídas por Satanás. João Wesley acreditava na Trindade, mas não condenou os católicos como totalmente apóstatas. Os luteranos mantêm suas convicções sobre sola fides sem negar a salvação em outras tradições.

    2. Ellen White é Uma Escritora Histórica, Não um Oráculo Infalível: A história da IASD mostra que White cometeu erros (conforme documentado por historiadores adventistas como George Knight). Sua visão das "igrejas caídas" reflete o sectarismo do século XIX, não a revelação divina. Permitir crítica a seus escritos não é heresia; é integridade intelectual.

    3. O Teste Real da Espiritualidade é o Fruto do Espírito (Gálatas 5:22-23), Não a Observância do Sábado: Se o Espírito Santo estava plenamente presente nos reformadores Martinho Lutero e João Calvino (cujos escritos exibem profundidade teológica e piedade genuína), como pode White afirmar que o Espírito foi totalmente retirado das suas igrejas históricas? A presença de frutos espirituais é a prova de presença do Espírito (Mateus 7:20), não a aceitação de uma data profética de 1844.

    Para Cristãos de Outras Denominações

    Apelamos aos evangélicos, católicos, ortodoxos e protestantes para que respondam com clareza, mas também com graça:

    1. Reconheçam o Valor da Crítica Profética: O Adventismo, apesar de seus extremos, levanta questões legítimas sobre a superficialidade religiosa, o sincretismo com a cultura secular, e a necessidade de uma fé viva. Não rejeitem toda a crítica adventista apenas porque ela está revestida de exclusivismo.

    2. Não Adotem Posições Defensivas Igualmente Excludentes: Uma resposta ao exclusivismo adventista não é um exclusivismo cristão igualmente rígido que nega toda a verdade bíblica que os adventistas enfatizam. Cristo orou para que Seus discípulos fossem "um" (João 17:20-23), não para que se aniquilassem mutuamente.

    3. Afirmem a Realidade Histórica da Ressurreição sobre Reinterpretações Proféticas: O Adventismo depende de reinterpretações de profecias (o santuário celestial, o Juízo Investigativo, a Data de 1844) que não encontram respaldo em séculos de exegese histórica. A base da fé cristã verdadeira é a Ressurreição de Cristo (1 Coríntios 15:1-11), não cálculos de datas apocalípticas.

    6. O Caminho para a Unidade Cristã Genuína

    A eclesiologia exclusivista de Ellen White, como exposta em O Grande Conflito e Primeiros Escritos, é um obstáculo ao ecumenismo cristão genuíno e constitui um revisionismo histórico. A Igreja não caiu em 1844 quando o Adventismo emergiu. A Igreja de Cristo permanece viva em milhões de crentes em centenas de denominações, unidas pela fé na Ressurreição, na justificação pela graça através da fé, e na promessa do retorno de Cristo.

    A verdadeira reforma religiosa não passa pela aceitação de visões privadas não-bíblicas sobre Satanás controlando igrejas inteiras, nem pela observância de um dia da semana como sina de lealdade a Deus. Passa pela volta contínua aos princípios bíblicos fundamentais:

    • A Autoridade da Escritura como norma última (sola Scriptura).

    • A Salvação Unicamente pela Graça através da Fé em Cristo (sola Gratia, sola Fide).

    • A Centralidade da Ressurreição de Cristo como fundamento da esperança cristã.

    Tanto Adventistas quanto Cristãos de outras fés são chamados a abandonar a circularidade hermenêutica ("nossa interpretação é correta porque rejeitamos outras") e retornar ao princípio histórico: as igrejas que pregam a Ressurreição, que vivem o amor do próximo, e que se submetem à Palavra de Deus são as legítimas, independentemente de guardarem o sábado ou o domingo.


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