
A Teologia Adventista é de Perdição?
Análise crítica revela problemas nas doutrinas centrais adventistas à luz da Bíblia e da teologia reformada. Conheça os desvios e repense sua fé.
Introdução
A análise das doutrinas problemáticas da Igreja Adventista do Sétimo Dia revela tensões teológicas fundamentais que a separam dos princípios basilares da ortodoxia cristã histórica. Embora certas áreas da teologia adventista se aproximem da ortodoxia, doutrinas centrais como o Evangelho, a Cristologia e a Doutrina da Trindade mostram desvios significativos em relação ao ensino bíblico exegético e ao entendimento evangélico-reformado clássico. O objetivo deste artigo é realizar uma análise crítica acadêmica das principais doutrinas adventistas que as posicionam fora dos limites do cristianismo histórico, examinando cuidadosamente seus pressupostos, práticas e as redefinições terminológicas frequentemente empregadas. Nas próximas seções, abordaremos criticamente: (1) O conceito adventista do Evangelho e sua relação com obras; (2) A compreensão não ortodoxa de quem é Cristo; (3) A redefinição da Trindade como “Trio Celestial”. Convidamos o leitor a examinar essas questões à luz da Escritura e da teologia cristã clássica.
1. O Evangelho Adventista: Obra, Fé e a Negação da Justificação Pela Graça
Uma das doutrinas mais problemáticas da Igreja Adventista do Sétimo Dia está em sua compreensão do Evangelho e na soteriologia adventista. Ao contrário do ensino apostólico sobre a justificação somente pela fé (sola fide), a teologia adventista propõe um sistema híbrido de fé e obras para a reconciliação do homem com Deus.
1.1 Soteriologia Adventista: Fé Mais Obras
Na teologia adventista, a justificação inicial é recebida pela fé, mas a manutenção desta justificação e a entrada final na vida eterna dependem da obediência perfeita aos mandamentos, especialmente ao sábado sabático. Esse entendimento é explicitado no “Juízo Investigativo”, doutrina central da escatologia adventista, onde os registros das obras dos crentes são examinados para determinar sua salvação final.
Obras de obediência, especialmente a observância sabática, são requisitos práticos para a legitimação da fé.
A perfeição moral é vista como condição necessária para acesso aos benefícios plenos do sacrifício de Cristo.
O status do salvo é incerto até o fim do Juízo Investigativo.
1.2 Exame Crítico das Bases Bíblicas
A doutrina adventista subverte o ensino paulino da justificação irrevogável e completa em Cristo.
“Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei.” (Romanos 3:28)
A insistência adventista em requisitos adicionais de obediência à lei mosaica, em particular ao quarto mandamento, reflete um entendimento que Paulo explicitamente repudiou em sua carta aos Gálatas (Gl 3:1-3; 5:1-4). Ademais,
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé — e isto não vem de vós, é dom de Deus — não de obras, para que ninguém se glorie.” (Efésios 2:8-9)
1.3 Redefinição de Termos Teológicos
O Adventismo frequentemente emprega terminologia protestante — salvação, graça, justificação — porém redesenha definições, promovendo assim uma espécie de semiótica teológica ambígua que confunde e oculta a real dimensão do desvio doutrinário.
Justificação: Entendida em dois estágios, sendo o último dependente de obras.
Obediência: Elevada à condição de critério judicial no juízo escatológico.
A consequência teológica é a negação da suficiência da cruz e a reincorporação do mérito humano, tornando o “evangelho” adventista antitético ao Evangelho bíblico. Este outro evangelho é explicitamente rejeitado por Paulo:
“Mas, ainda que nós ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos anunciamos, seja anátema.” (Gálatas 1:8)
2. Quem é o Cristo? Cristologia Adventista e Heresias Históricas
No cerne da crítica à cristologia adventista encontra-se a redefinição de pontos nodais da identidade e obra de Jesus Cristo. O Adventismo mantém em sua teologia diversas proposições incompatíveis com a ortodoxia bíblica e histórica. Enumeraremos as principais distorções:
2.1 Kenose e Divindade de Cristo
O Adventismo frequentemente endossa entendimento kenótico radical, segundo o qual Cristo teria abdicado de sua divindade na encarnação, tornando-se apenas humano e sujeito ao erro e à apostasia. Esse ensino contraria o credo calamitosamente expresso em Filipenses 2:6-7, pois o termo ekenôsen (esvaziou-se) refere-se à humilhação voluntária, não à subtração da deidade. O dogma cristão ortodoxo, conforme Calcedônia (451 d.C.), afirma que Jesus é totalmente Deus e totalmente homem (“vere Deus, vere homo”) de forma indivisível, sem mistura ou confusão.
2.2 Cristo como “Miguel Arcanjo” e Hierarquia Celestial
A identificação de Jesus com Miguel, o Arcanjo, é uma doutrina advinda do adventismo primitivo. Tal proposição é explicitamente herética, pois equipara o Filho de Deus a uma criatura angelical, rebaixando-o e minando sua coeternidade, consubstancialidade e senhorio. A ortodoxia confessional rejeita qualquer assimilação de Cristo a seres criados: “No princípio era o Verbo… e o Verbo era Deus” (João 1:1).
2.3 Peccabilidade, Natureza Caída e Incapacidade de Expiar
Outra doutrina inquietante é a defesa de que Jesus assumiu uma natureza humana decaída, com inclinações pecaminosas, e que Ele poderia ter pecado. Essa posição (peccabilidade de Cristo) repudia a afirmação bíblica da impecabilidade do Salvador:
“Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus.” (2 Coríntios 5:21)
Além disso, tal doutrina compromete a eficácia vicária do sacrifício de Cristo.
2.4 Redefinição do Jesus Eterno e Autossuficiente
Algumas declarações oficiais e publicações advogam que Jesus foi “exaltado” e feito igual ao Pai e não possui preexistência absoluta nem igualdade ontológica. Esse ensino colide com a clareza das Escrituras acerca da eternidade, consubstancialidade e autossuficiência de Cristo (João 17:5; Col 2:9).
3. Doutrina da Trindade: Da Ortodoxia ao “Trio Celestial”
O entendimento adventista da Trindade revela um uso semântico estratégico da terminologia tradicional cristã. Contudo, a teologia subjacente é notoriamente subortodoxa — asserção amplamente documentada em fontes primárias e secundárias adventistas.
3.1 O “Trio Celestial”: Três Deuses em Unidade Funcional
O termo “Trindade” é utilizado, mas o conceito corresponde antes a um triunvirato operacional do que à unidade ontológica de essência.
O Pai é considerado o Deus supremo e fontal, enquanto Jesus e o Espírito Santo são seres derivados, não coiguais nem coeternos na plena acepção niceno-calcedônica.
Essa doutrina se aproxima do subordicionismo e do triteísmo, sendo incompatível com o monoteísmo bíblico.
3.2 Personificação Tardia do Espírito Santo
Historicamente, a Igreja Adventista só começou a afirmar a personalidade do Espírito Santo décadas depois de sua fundação, mantendo durante anos visões que negavam sua plena deidade e subsistência pessoal. Tal hesitação revela a raiz de suas dificuldades em abraçar o ensino trinitário ortodoxo conforme definido nos concílios ecumênicos.
3.3 Divergências com a Tradição Niceno-Calcedônica
A Doutrina da Trindade é nuclear para o cristianismo histórico, como expresso no Credo Niceno (325 d.C.): “Cremos em um só Deus… Pai Todo-poderoso... um só Senhor, Jesus Cristo, gerado, não criado, consubstancial ao Pai... e no Espírito Santo, Senhor e doador da vida”. Adventistas redefinem e relativizam tais proposições, recaindo em erros já combatidos pela Igreja desde o século IV.
Negação da eternidade absoluta do Filho.
Rebaixamento funcional e ontológico do Espírito Santo.
Adoção de um modelo funcionalista, em vez de ontológico, para a unidade Divina.
4. Ambiguidades Linguísticas: A Nova “Língua Teológica” Adventista
Uma questão metodológica crucial para analisar as doutrinas problemáticas do adventismo é sua prática persistente de empregar terminologia cristã tradicional, mas com conteúdos semânticos radicalmente alterados. Esta estratégia de redefinição semântica resulta em profundas distorções e dificulta o diálogo honesto.
4.1 Redefinições e Ambiguidade Hermenêutica
“Graça” refere-se a uma capacidade sobrenatural para obedecer e não à aceitação graciosa e imerecida.
“Justificação” apresenta-se como processo, não como ato monergístico de Deus.
“Trindade” designa acordo de propósito, não unidade ontológica de essência.
4.2 Barreiras Hermenêuticas e Dificuldades de Diálogo
Tal prática é reconhecida como uma das mais graves dificuldades no campo da apologética e missiologia evangelística em relação ao adventismo, tornando necessário um desmascaramento semântico para se chegar ao núcleo das divergências doutrinárias e promover diálogo teológico honesto e esclarecedor.
A adoção de termos familiares não significa concordância doutrinária.
A análise apologética precisa expor as redefinições para desarticular o engano doutrinário.
Conclusão
Em síntese, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, embora compartilhe com o cristianismo formal vários conceitos superficiais e elementos litúrgicos, diverge radicalmente das doutrinas centrais que caracterizam a fé cristã ortodoxa. Identificamos que o Evangelho adventista é um sistema sincretista de fé e obras, negando assim o princípio bíblico da justificação pela graça somente, em Cristo somente, por meio da fé somente (Romanos 3:28; Efésios 2:8-9). A cristologia adventista ressuscita erros antigos como o kenotismo herético, a identificação de Jesus como criatura angelical, e a possibilidade real de pecado em Cristo, minando a validade do sacrifício expiatório substitutivo. Por fim, a doutrina adventista da Trindade representa uma aproximação apenas nominal à ortodoxia cristã, mas na substância aproxima-se do triteísmo funcionalista, subordenando Filho e Espírito ao Pai de modo não compatível com o Credo Niceno.
Essas inconsistências, por mais que sejam revestidas de linguagem familiar, nunca devem ser vistas como meras diferenças secundárias, mas sim como desvios graves das verdades centrais do cristianismo histórico. Apelamos aos leitores adventistas preocupados com a fidelidade bíblica e a integridade doutrinária que retornem à simplicidade e suficiência do Evangelho bíblico.
“Pois decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.” (1 Coríntios 2:2)
O verdadeiro cristão reconhece que na cruz é consumada toda a obra da salvação, reconciliação e justiça, independente das obras humanas. Nossa esperança está em Cristo somente, sua pessoa divina e obra perfeita, a quem toda honra, glória e adoração pertencem eternamente.
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