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    O movimento Adventista do Sétimo Dia foi iniciado por arianos?
    Adventismo

    O movimento Adventista do Sétimo Dia foi iniciado por arianos?

    Os pioneiros da Igreja Adventista do Sétimo Dia eram arianos e semi-arianos em sua cristologia — muitos provenientes de uma seita herética chamada Christian Connexion — um ramo unitário e restauracionista.

    25 de dezembro de 202511 min min de leituraPor Rodrigo Custódio

    Introdução

    A relação entre adventismo do sétimo dia e a heresia ariana apresenta-se como um dos principais pontos de tensão teológica entre a tradição evangélica histórica e o movimento adventista. Impulsionado por preocupações doutrinárias profundas, este artigo examina criticamente o legado ariano dos pioneiros adventistas e os desdobramentos teológicos disso para o status do próprio adventismo enquanto expressão cristã legítima. O exame partirá da análise das convicções cristológicas e pneumatológicas fundamentais dos fundadores, explicitando como tais convicções divergem radicalmente da ortodoxia trinitária e apontando para a relevância desse debate. Serão abordados documentos primários adventistas, comparando-os à doutrina bíblica da Trindade, discutindo as consequências dessa herança para a identidade do adventismo, bem como o reconhecimento do problema por parte da própria erudição adventista. O leitor é convidado a reconsiderar criticamente o fundamento doutrinário do adventismo e sua conformidade com as Escrituras Sagradas.

    1. O Adventismo do Sétimo Dia e a Herança Ariana de Seus Pioneiros

    1.1 Contexto Histórico-Teológico do Adventismo

    O movimento adventista surgiu no século XIX em meio a intensas disputas sobre a identidade de Cristo e a doutrina da Trindade. Muitos pioneiros adventistas vieram da Christian Connexion, uma ramificação unitariana e restauracionista, abertamente contrária ao trinitarismo ortodoxo. Conforme reconhecido por teólogos adventistas como Jerry Moon (“The Trinity”, pp. 190), a maioria dos líderes fundadores subscrevia uma cristologia ariana ou semi-ariana. Essa filiação antitrinitariana não foi marginal ou acidental, mas constituía a base teológica da identidade inicial do movimento.

    • O adventismo rejeitava explicitamente o Credo de Niceia (325 d.C.) e o conceito de consubstancialidade do Filho com o Pai;

    • Líderes como James White, Uriah Smith, J.N. Andrews, Joseph Bates e E.J. Waggoner endossaram que Jesus teve um “começo” em algum momento do passado eterno;

    • Em seus escritos, Ellen White, considerada profetisa, descreve Cristo como alguém a quem “foi conferido” um status igual ao do Pai, não possuindo eternamente tal igualdade.

    Essa postura cristalizou um ensino heterodoxo sobre Cristo, em flagrante oposição aos concílios históricos do cristianismo e à revelação neotestamentária — conforme exposto em João 1:1-3 (“No princípio era o Verbo ... e o Verbo era Deus”). Tal negação da coeternidade e coigualdade do Filho constitui o âmago da heresia ariana combatida pela Igreja nos primeiros séculos e considerada incompatível com a fé cristã.

    1.2 Evidências Documentais dos Fundadores Adventistas

    A análise das obras originais dos pioneiros adventistas revela, sem ambiguidade, posições abertamente arianas ou semi-arianas:

    • James White (Review & Herald, 1846, 1852): “o velho credo trinitariano, de que Jesus Cristo é o Deus eterno ... não tem nenhum apoio nas Escrituras”.

    • J.N. Andrews (Review & Herald, 1869): “o Filho de Deus ... teve, em algum ponto eterno do passado, um princípio de dias”.

    • Uriah Smith (Looking Unto Jesus, p. 10): “Deus sozinho é sem princípio ... então apareceu o Verbo”.

    • Joseph Bates (Autobiography, p. 204): “impossibilidade de crer que o Senhor Jesus Cristo ... era o Deus todo-poderoso, o Pai”.

    • E.J. Waggoner (Signs of the Times, 1889): “O Pai é maior, pois não teve princípio, enquanto a personalidade de Cristo teve um princípio”.

    Como resultado, a cristologia adventista pioneira estava fundamentalmente em contradição com declarações bíblicas sobre a plena divindade e eternidade de Cristo, por exemplo:

    João 1:1-3: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele.”

    Colossenses 2:9: “Pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade.”

    Hebreus 1:8: “Mas acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre...”

    Tal rejeição da ortodoxia trinitária por parte dos pioneiros revela uma distância insuperável entre adventismo e o núcleo da fé cristã histórica.

    2. Cristologia Adventista: Análise Crítica das Declarações Pioneiras

    2.1 A Subordinação do Filho ao Pai

    As declarações de Ellen G. White em Testemunhos para a Igreja e O Espírito de Profecia consagram um modelo de subordinação ontológica de Cristo ao Pai, explícito em frases como: “Cristo foi feito igual ao Pai” e “o Pai era maior que o Filho porque foi primeiro” (James White, Review and Herald, 1881). Ora, tal ensino ecoa inferiorismo ariano, atribuindo a Jesus uma condição de semideus recebendo status adquirido no tempo, em oposição à coeternidade ensinada pelas Escrituras.

    • A terminologia “foi dado” e “foi feito” implica ausência de igualdade ontológica eterna;

    • Sustentar que o Filho foi “exaltado” ou “recebeu” autoridade do Pai é retroceder ao erro ariano, que distinguia ousia (essência) e negava a engenidade do Filho;

    • A apresentação da “grande controvérsia” como desencadeada por uma concessão de autoridade a Cristo reforça a gênese temporal do seu status, em ruptura com a tradição bíblica e patrística.

    A abordagem adventista não apenas colide com o testemunho apostólico, mas reabilita erros formalmente condenados pela Igreja universal. João 8:58 afirma categoricamente:

    “Em verdade, em verdade vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU.”

    O emprego do termo ego eimi por Jesus identifica-o com o Deus autoexistente do AT (Êxodo 3:14), tornando insustentável qualquer teoria de “geração temporal”.

    2.2 O Problema da Definição de “Gerado” e “Unigênito”

    Os pioneiros adventistas insistiam em uma leitura “literal” da expressão “Filho Unigênito” (monogenēs, João 1:14, 3:16), supondo um início para a existência do Filho. Tal exegese ignora a tradição teológica e patrística, que sempre entendeu geração eterna como distinção relacional, não temporal nem ontológica. Conforme Atanásio de Alexandria e os padres capadócios, o Filho é eternamente gerado, “não feito”, como proclama o Credo Niceno.

    A falsa distinção entre o Pai como ho monogenēs Theos e o Filho como uma derivação menor dilacera a unidade do ser divino, afrontando textos-chave:

    Hebreus 13:8: “Jesus Cristo, ontem, hoje e eternamente, é o mesmo.”

    Isaías 9:6: “O seu nome será ... Deus Forte, Pai da Eternidade ...”

    • Sustentar que “unigênito” implica um início é erro cristológico elementar, rejeitado nos Concílios Ecumênicos e sem base exegeticamente responsável.

    • A insistência adventista nessa leitura faz do adventismo porta-voz contemporâneo de uma heresia condenada no século IV — e esse não é um detalhe secundário.

    3. Pneumatologia Adventista Primitiva e a Negação da Personalidade do Espírito Santo

    3.1 Redução do Espírito Santo a Força ou “Agência”

    Outra faceta crítica da herança ariano-semi-arianista do adventismo consiste na negação da plena personalidade e divindade do Espírito Santo. Líderes como J.N. Loughborough e Uriah Smith identificavam o Espírito como mero “poder”, “aflato divino” ou “representante” impessoal do Pai e do Filho (Review and Herald, 1898, e Looking Unto Jesus, p. 10).

    Esse paradigma nega as Escrituras que afirmam:

    Atos 5:3-4: “Por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo? ... Não mentiste aos homens, mas a Deus.”

    • O texto equipara o Espírito a Deus, não a uma “força”;

    • O Espírito pode ser entristecido (Efésios 4:30), falar (Atos 13:2), ensinar (João 14:26); ações de uma pessoa, não de mera energia divina;

    • A pneumatologia adventista inicial era indistinguível de doutrinas modalistas ou socinianas, ambas refutadas pelo consenso cristão.

    3.2 Mudanças Após 1898: Tentativas de Ajuste e Problemas Persistentes

    Somente após as alegadas “revelações” de Ellen White (1898), o adventismo começa alertamente a revisar sua posição sobre o Espírito — mas sem nunca adotar integralmente o conceito trinitário ortodoxo. Persistiu no movimento uma retórica de “trio celestial” ao invés de Trindade, redefinindo a doutrina em termos próprios e evitando o reconhecimento explícito da coigualdade e coeternidade das três Pessoas. As revisões, portanto, parecem responder mais à pressão externa do que a uma conversão genuína ao consenso bíblico-histórico.

    As implicações disso para a ortopraxia, soteriologia e eclesiologia adventistas são sérias, pois:

    • Ao negar a onipresença pessoal de Cristo por meio do Espírito, limita-se a plena obra salvífica do Redentor (João 14:16-17);

    • Concebendo o Espírito como instrumento e não como Pessoa Divina, dilui-se a vida trinitária na fé e adoração cristã.

    4. Crítica Exegética e Teológica à Cristologia e Pneumatologia Adventistas

    4.1 Fundamentos Bíblicos da Trindade: A Refutação das Bases Adventistas

    A negação adventista pioneira da Trindade falha não apenas frente ao testemunho patrístico, mas sobretudo diante do testemunho claro das Escrituras. Destacam-se, entre muitos outros, os seguintes textos:

    Mateus 28:19: “Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.”

    • O uso de “nome” (singular), seguido de três Pessoas distintas, sugere unidade essencial e distinção pessoal.

    • O texto era amplamente reconhecido na igreja dos primeiros séculos como evidência de trinitarismo bíblico, e nunca foi entendido como argumento para “três deuses” — mas um só Deus em três Pessoas.

    João 14:16-17: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre.”

    • O uso do termo “outro” (allos, de mesma natureza) indica que Cristo e o Espírito são distintos, ambos divinos.

    1 Coríntios 8:6: “todavia para nós há um só Deus, o Pai ... e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas.”

    • Paulo, adaptando a Shema judaica (Deuteronômio 6:4), inclui Cristo no monoteísmo sem dividir ou subordinar a essência divina — distintamente trinitário, sem concessão ao arianismo ou subordinacionismo.

    4.2 Incoerências Lógicas e Problemas Sistêmicos no Adventismo

    • A recusa adventista em aceitar o conceito de “um ser em três pessoas” expõe, repetidamente, confusões de categoria entre “ser” e “pessoa”. Figura proeminente como Joseph Bates rejeita a Trindade invocando exemplos circulares e falácias lógicas, ignorando a distinção clássica entre ousia (essência) e hypostasis (pessoa).

    • A defesa de uma “subordinação funcional” planejada para contornar acusações de arianismo é contraditória. O testemunho dos pioneiros é constantemente ontológico (inferioridade de Cristo em essência), não meramente econômico (função ou papel). Isso permanece uma incoerência sistêmica que mina toda a arquitetura soteriológica adventista.

    Finalmente, as tentativas de argumentos utilitaristas (ex: “estávamos reformando contra Roma”, “os pioneiros foram sinceros”) carecem de peso doutrinário, pois a sinceridade não valida heresias, e a Escritura é clara quanto à identidade de Cristo (ver Gálatas 1:8-9, “ainda que um anjo do céu ...”).

    5. Perspectivas Internas: Reconhecimento do Problema pela Erudição Adventista

    5.1 Reflexões de Teólogos Adventistas Contemporâneos

    O desconforto com o passado ariano do adventismo é reconhecido pelos próprios estudiosos adventistas. Jerry Moon, Roy Gane e outros salientam que ou os pioneiros estavam errados e a igreja atual está certa, ou a igreja atual errou ao “apostatizar” do “primitivo evangelho” (cf. Jerry Moon, The Trinity, p. 190). Tal dilema é sintoma direto da ausência de uma hermenêutica coerente para lidar com o legado da profetisa Ellen White, cujos escritos muitas vezes contrariam a ortodoxia clássica e dificultam uma correção plena do curso.

    • O debate interno expõe o medo de reconhecer publicamente a rejeição dos fundamentos da fé cristã por parte dos fundadores do movimento.

    • A insistência em revisar, “reinterpretar” ou harmonizar artificialmente os escritos da “mensageira do Senhor” com a ortodoxia trinitariana demonstra a precariedade dessa posição.

    A honestidade acadêmica demandaria o reconhecimento explícito da heresia nos primeiros estágios do adventismo, bem como a admissão de que a posterior “conversão” ao trinitarismo foi tardia, incompleta e, frequentemente, de fachada conceitual.

    6. Implicações Eclesiológicas e Teológicas da Herança Ariana Adventista

    6.1 Consequências para a Identidade e Missão do Adventismo

    A análise crítica conduz à conclusão inevitável: movimentos fundados sobre heresias condenadas carecem de legitimidade como expressão fiel da Igreja de Cristo. Os padrões bíblicos para ministério e ensino são inequívocos:

    2 João 1:9-10: “Todo aquele que não permanece no ensino de Cristo, mas segue adiante, não tem Deus; quem permanece nesse ensino tem tanto o Pai como o Filho.”

    Os adventistas do sétimo dia não podem reivindicar continuidade com o verdadeiro cristianismo enquanto não repudiarem abertamente os erros fundamentais de seus pionerios. O próprio paradigma da “Grande Controvérsia” depende estruturalmente das caricaturas não-bíblicas de Cristo e do Espírito promovidas nos primórdios do movimento. Retirar tais convicções basilares seria minar a própria coesão identitária distintiva do adventismo.

    • A fé e a prática adventistas continuam atreladas a pressupostos arianos e antitrinitários, ainda que de forma camuflada em vocabulário reformulado (“Trio celestial”) — mas sem aderência à Trindade da Revelação.

    • Em face das Escrituras, o adventismo carece dos marques diferenciais da verdadeira Igreja de Cristo: Cristo verdadeiro, Evangelho verdadeiro, Espírito verdadeiro.

    Conclusão

    A herança ariana dos pioneiros do adventismo do sétimo dia não é uma obscuridade ou detalhe inócuo da história eclesiástica, mas uma característica estrutural de absoluto antagonismo à fé apostólica e ortodoxa. A análise documental, exegética e teológica demonstra inequivocamente que o adventismo foi fundado sob o estandarte do arianismo, negando a eternidade, divindade plena e consubstancialidade do Filho com o Pai e resvalando para um modelo impessoal do Espírito Santo.

    As tentativas recentes de correção são insuficientes, uma vez que não houve abjuração clara dos erros originais — conflitos e incertezas se mantêm no cerne identitário e teológico adventista. Todo cristão chamado para amar a verdade deve considerar seriamente as exortações bíblicas:

    2 Coríntios 11:4: “Se alguém vem e prega outro Jesus ... ou recebe um espírito diferente ... vocês toleram de boa mente.”

    Gálatas 1:8-9: “Ainda que nós ou um anjo dos céus vos pregue um evangelho diferente daquele que vos pregamos seja anátema.”

    Portanto, é inescapável: o movimento adventista se iniciou a partir de pressupostos heréticos incompatíveis com o cristianismo bíblico. A verdadeira fé repousa na revelação trinitária — Pai, Filho e Espírito plenamente coiguais, coeternos e coessenciais (Mateus 28:19; João 1:1-3; 2 Coríntios 13:14). Toda doutrina ou movimento que nega tal fundamento deve ser rejeitado em favor do Evangelho revelado e preservado pela Igreja ao longo dos séculos.

    Se você, leitor adventista, busca a verdade à luz das Escrituras, é crucial reexaminar honestamente as doutrinas de sua tradição à luz da Palavra. Somente assim encontrará o Cristo pleno, eterno, onipotente — o Único digno de toda adoração.

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